118 - Cento e Dezoito
Veio devagar. Ainda percebi o suor escorrer, galgar o rosto, cair gotejante onde já tudo morrera no meu corpo. - Tens medo? Era a tua voz coada por vibrações de pavor, barco à deriva que pedia na resposta um porto, um cais, uma âncora que imobilizasse tudo num esquecimento de pedra, num não estar. – Não tenho. As garras que me apertavam a garganta estão lassas, o escuro não me assusta. Espera um pouco e juntos seremos dois contra o que não há. Poderemos empurrá-lo se voltar, poderemos decidir que já não está e acordar tudo o que temos congelado. Dorme. Depois… ou o medo desaparece ou nos engolirá para sermos nele outra vez força.