Intimidades 1267

Nunca fui de fazer as coisas como seria previsível. Por essa razão trato tudo pelo lado menos comum. O problema é que escrevo para gente vulgar e mesmo que a narrativa seja insólita terá de ser reconhecida como plausível por quem lê. No amor é usual tirar a roupa e dobrá-la cuidadosamente nas costas de uma cadeira. A questão põe-se se em vez de amor é paixão e aí, a roupa nova pode ficar sem botões e a seda esgarçada. Há sempre quem nem goste de ler e quem entenda aceitável a roupa destroçada se o resto valer em beijos mordidos, boca a doer, nódoas suspeitas na brancura da carne, uma unha partida. Ai ferozes formas de te dizer que és o que preciso, agora, já, devagar, lento, atropelado, forte, gemido. Depois a morte ou o mergulho no nada. A saída mansa, o ar desgrenhado, os óculos esquecidos, a fome. Tremo ainda. Bebo-te sempre deste jeito e, obviamente, não te amo.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 12/08/2019
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