Intimidades 1071

Ainda a boca. Muda de sons, mordidas todas as palavras que talvez pudessem trazer lume ao corpo, estava inquieta. A seguir, pesados, os teus dedos tiranos seguiam os roteiros da pele e, devassos, chegavam ao centro da fome. Aí tomaram tento todos os sentidos e era o paladar aceso e o cheiro forte. – Come, disseste estendendo a maçã destroçada. E eu rilhando um pedaço aprendi-te os mamilos. Senti que escorria o sumo que não pude engolir e era meu o que apertavas. Senti-me escravo, senhor, cavalo, rei do charco. Todos os uivos eram de lobo, todas as pragas cansadas, todo o suor que corria turbava o olhar mas então era o sangue que te via, te amaldiçoava e morria. Morria.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 13/01/2019
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