Frases De Mário Quintana - Parte II

A maior dor do vento é não ser colorido.

O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família.

Escadas de caracol

Sempre

São misteriosas: conturbam...

Quando as desce, a gente

Se desparafusa...

Quando a gente as sobe

Se parafusa

O Eterno Espanto

Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez?

Verso Avulso

... O luar é a luz do sol que está dormindo...

Linha Curva

O caminho mais agradável entre dois pontos.

Linha Reta

Linha sem imaginação.

Melancolia: Maneira romântica de ficar triste.

Ao Pé da Letra

Enforcar-se é levar muito a sério o nó na garganta.

Sinônimos

Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.

Poema

Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos...

O Poema

O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face.

O Berço e o Terremoto

Os versos, em geral, são versos de embalar, como eu às vezes os tenho feito, não sei se por simples complacência... ou pura piedade.

Contudo, os verdadeiros versos não são para embalar - mas para abalar.

Mesmo a mais simples canção, quando a canta um Camela Lorca, desperta-te a alma para um mundo de espanto.

DOS MUNDOS

Deus criou este mundo. O homem, todavia,

Entrou a desconfiar, cogitabundo...

Decerto não gostou lá muito do que via...

E foi logo inventando o outro mundo.

Tempo

Coisa que acaba de deixar a querida leitora um pouco mais velha ao chegar ao fim desta linha.

Sonho

Um poema que ao lê-lo, nem sentirias que ele já estivesse escrito, mas que fosse brotando, no mesmo instante, de teu próprio coração.

Do Estilo

O estilo é uma dificuldade de expressão.

Às vezes a gente pensa que está dizendo bobagens e está fazendo poesia.

Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.

Cada pessoa pensa como pode...

Despertador é bom para a gente se virar para o outro lado e dormir de novo.

Trova

Coração que bate-bate...

Antes deixes de bater!

Só num relógio é que as horas

Vão passando sem sofrer.

A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão.

Biografia

Era um grande nome - ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.

A DIFERENÇA

A diferença entre um poeta e um louco é que o poeta

sabe que é louco... Porque a poesia é uma loucura lúcida.

Da Perfeição da Vida

Por que prender a vida em conceitos e normas?

O Belo e o Feio... O Bom e o Mau... Dor e Prazer...

Tudo, afinal, são formas

E não degraus do Ser!

Amor

Quando duas pessoas fazem amor

Não estão apenas fazendo amor

Estão dando corda ao relógio do mundo

O Assunto

E nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra coisa.

Nunca

Nunca ninguém sabe se estou louco para rir ou para chorar…

Por isso o meu verso tem

essa quase imperceptível tremor...

A vida é triste, o mundo é louco!

Nem vale a pena matar-se por isso.

Nem por ninguém.

Por nenhum amor…

A vida continua, indiferente!

O POETA

Venho do fundo das Eras

Quando o mundo mal nascia...

Sou tão antigo e tão novo

Como a luz de cada dia!

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,

não falaria em Deus nem no Pecado

— muito menos no Anjo Rebelado

e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:

nada das suas celestiais promessas

ou das suas terríveis maldições...

Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,

desses que desde a infância me embalaram

e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma

...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —

um belo poema sempre leva a Deus!

CONFISSÃO

Que esta minha paz e este meu amado silêncio

Não iludam a ninguém

Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta

Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios

Acho-me relativamente feliz

Porque nada de exterior me acontece...

Mas,

Em mim, na minha alma,

Pressinto que vou ter um terremoto!

Às vezes tudo se ilumina de uma intensa irrealidade

E é como se agora este pobre, este único, este efêmero instante do mundo

Estivesse pintado numa tela,

Sempre...

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,

Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...

Eu tenho um medo

Horrível

A essas marés montantes do passado,

Com suas quilhas afundadas, com

Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...

Ai de mim,

Ai de ti, ó velho mar profundo,

Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

Essa lembrança que nos vem às vezes...

folha súbita

que tomba

abrindo na memória a flor silenciosa

de mil e uma pétalas concêntricas...

Essa lembrança...mas de onde? de quem?

Essa lembrança talvez nem seja nossa,

mas de alguém que, pensando em nós, só possa

mandar um eco do seu pensamento

nessa mensagem pelos céus perdida...

Ai! Tão perdida

que nem se possa saber mais de quem!

OS DEGRAUS

Não desças os degraus do sonho

Para não despertar os monstros.

Não subas aos sótãos - onde

Os deuses, por trás das suas máscaras,

Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.

O mistério está é na tua vida!

E é um sonho louco este nosso mundo...

O Mapa

Olho o mapa da cidade

Como quem examinasse

A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita

Das ruas de Porto Alegre

Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,

Tanta nuança de paredes,

Há tanta moça bonita

Nas ruas que não andei

(E há uma rua encantada

Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,

Poeira ou folha levada

No vento da madrugada,

Serei um pouco do nada

Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar

Pareça mais um olhar,

Suave mistério amoroso,

Cidade de meu andar

(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

A verdadeira arte de viajar...

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,

Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.

Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...

Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!

Poema Transitório

(...) é preciso partir

é preciso chegar

é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é urgente!

... no entanto

eu gostava mesmo era de partir...

e - até hoje - quando acaso embarco

para alguma parte

acomodo-me no meu lugar

fecho os olhos e sonho:

viajar, viajar

mas para parte nenhuma...

viajar indefinidamente...

como uma nave espacial perdida entre as estrelas.

Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.

Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,

nem desconfia que se acha conosco desde o início

das eras. Pensa que está somente afogando problemas

dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar

inquietação do mundo!

A indulgência é a maneira mais polida de desprezar alguém.

Do bem e do mal

Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos.

Não há coisa na vida inteiramente má.

Tu dizes que a verdade produz frutos...

Já viste as flores que a mentira dá?

Diálogo Noite Adentro

- Mas há as que nos compreendem...

- Ah, essas são as piores!

Mau Humor

Os que metem uma bala na cabeça retiram-se deste mundo batendo com a porta.

[Inscrição para um portão de cemitério]

A morte não melhora ninguém...

Diálogo Bobo

- Abandonou-te?

- Pior ainda: esqueceu-me...

[As falsas Recordações]

Se a gente pudesse escolher a infância

que teria vivido, com enternecimento eu não

recordaria agora aquele velho tio de perna de pau,

que nunca existiu na familia, e aquele arroio que

nunca passou aos fundos do quintal,

e onde íamos pescar e sestear nas tardes de verão,

sob o zumbido inquietante dos besouros...

Subnutrido de beleza, meu cachorro-poema vai farejando poesia em tudo, pois nunca se sabe quanto tesouro andará desperdiçado por aí...

Quanto filhotinho de estrela atirado no lixo!

[O Tamanho Do Espaço]

A medida do espaço somo nós, homens,

Baterias de cozinha e jazz-band,

Estrelas, pássaros, satélites perdidos,

Aquele cabide no recinto do meu quarto,

Com toda a minha preguiça dependurada nele...

O espaço, que seria dele sem nós?

Mas o que enche, mesmo, toda a sua infinitude

É o poema!

- por mais leve, mais breve, por mínimo que seja...

[Leituras]

- Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia.

- Mas eu estou só esperando que apareça O Significado do Significado do Significado.

Da calúnia

Sorri com tranquilidade

Quando alguém te calunia.

Quem sabe o que não seria

Se ele dissesse a verdade...

[A Arte de Ler]

O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.

No ano passado...

Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraodinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte:

"Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados".

Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos...

Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado.

Morri? Não. Ressuscitei. Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.

[A Carta]

Quando completei quinze anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.

Um poema como um gole d'água bebido no escuro.

Como um pobre animal palpitando ferido.

Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na

[floresta noturna.

Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição

[de poema.

Triste.

Solitário.

Único.

Ferido de mortal beleza.

INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA

A vida é um incêndio: nela

dançamos, salamandras mágicas

Que importa restarem cinzas

se a chama foi bela e alta?

Em meio aos toros que desabam,

cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,

na própria luz consumida...

[Leitura]

Se é proibido escrever nos monumentos, também deveria haver uma lei que proibisse escrever sobre Shakespeare e Camões.

Poema da Gare de Astapovo

O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos

E foi morrer na gare de Astapovo!

Com certeza sentou-se a um velho banco,

Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso

Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo

Contra uma parede nua...

Sentou-se ...e sorriu amargamente

Pensando que

Em toda a sua vida

Apenas restava de seu a Glória,

Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas

Coloridas

Nas mãos esclerosadas de um caduco!

E então a Morte,

Ao vê-lo tao sozinho àquela hora

Na estação deserta,

Julgou que ele estivesse ali à sua espera,

Quando apenas sentara para descansar um pouco!

A morte chegou na sua antiga locomotiva

(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)

Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,

E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...

Ele fugiu de casa...

Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...

Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!

Já trazes, ao nascer, a tua filosofia.

As razões? Essas vêm posteriormente,

Tal como escolhes, na chapelaria,

A forma que mais te assente...

Quem Sabe um Dia

Quem sabe um dia

Quem sabe um seremos

Quem sabe um viveremos

Quem sabe um morreremos!

Quem é que

Quem é macho

Quem é fêmea

Quem é humano, apenas!

Sabe amar

Sabe de mim e de si

Sabe de nós

Sabe ser um!

Um dia

Um mês

Um ano

Um(a) vida!

[Do Bem o do Mal]

No fundo, não há bons nem maus. Há apenas os que sentem prazer em fazer o bem e os que sentem prazer em fazer o mal. Tudo é volúpia...

O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo

que não admite acompanhamento sólido. Mas eu o driblo,

saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas-na-manteiga

que alguém pediu na mesa próxima.

O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando de vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é natal...

Quando se vê, já terminou o ano...

Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê passaram 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado...

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...

Nada jamais continua,

Tudo vai recomeçar!

Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto

É como se abrisse o mesmo livro

Numa página nova...

Eu estava dormindo e me acordaram

E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...

E quando eu começava a compreendê-lo

Um pouco,

Já eram horas de dormir de novo!

Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?

Morrer é simplesmente esquecer as palavras.

Não tenho vergonha de dizer que estou triste,

Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas:

Estou triste por que vocês são burros e feios

E não morrem nunca...

Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada.

Amar é mudar a alma de casa.

Quem disse que eu me mudei?

Não importa que a tenham demolido:

A gente continua morando na velha casa em que nasceu.

POEMINHA SENTIMENTAL

O meu amor, o meu amor, Maria

É como um fio telegráfico da estrada

Aonde vêm pousar as andorinhas...

De vez em quando chega uma

E canta

(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)

Canta e vai-se embora

Outra, nem isso,

Mal chega, vai-se embora.

A última que passou

Limitou-se a fazer cocô

No meu pobre fio de vida!

No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:

As andorinhas é que mudam.

Fere de leve a frase... E esquece... Nada

Convém que se repita...

Só em linguagem amorosa agrada

A mesma coisa cem mil vezes dita.

CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO

Eu sou um homem fechado.

O mundo me tornou egoísta e mau.

E a minha poesia é um vício triste,

Desesperado e solitário

Que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,

Com o teu passo leve,

Com esses teus cabelos...

E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender

nada, numa alegria atônita...

A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil

Aonde viessem pousar os passarinhos.

PRESENÇA

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,

teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento

das horas ponha um frêmito em teus cabelos...

É preciso que a tua ausência trescale

sutilmente, no ar, a trevo machucado,

as folhas de alecrim desde há muito guardadas

não se sabe por quem nalgum móvel antigo...

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela

e respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu sentir

como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...

Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista

que nunca te pareces com o teu retrato...

E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

O LUAR

O luar,

é a luz do Sol que está sonhando

O tempo não pára!

A saudade é que faz as coisas pararem no tempo...

...os verdadeiros versos não são para embalar,

mas para abalar...

A grande tristeza dos rios é não poderem levar a tua imagem...

EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS MUITO LINDOS

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos

colhidos no mais íntimo de mim...

Suas palavras

seriam as mais simples do mundo,

porém não sei que luz as iluminaria

que terias de fechar teus olhos para as ouvir...

Sim! Uma luz que viria de dentro delas,

como essa que acende inesperadas cores

nas lanternas chinesas de papel!

Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas

do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te

e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento

da Poesia...

como

uma pobre lanterna que incendiou!

O verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê.

A esperança é um urubu pintado de verde.

DOS NOSSOS MALES

A nós bastem nossos próprios ais,

Que a ninguém sua cruz é pequenina.

Por pior que seja a situação da China,

Os nossos calos doem muito mais...

Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves.

A indiferença é a maneira mais polida de desprezar alguém.

Minha vida não foi um romance...

Nunca tive até hoje um segredo.

Se me amar, não digas, que morro

De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance

Minha vida passou por passar

Se não amas, não finjas, que vivo

Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance...

Pobre vida... passou sem enredo...

Glória a ti que me enches de vida

De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance...

Ai de mim... Já se ia acabar!

Pobre vida que toda depende

De um sorriso.. de um gesto.. um olhar...

Tão bom viver dia-a-dia...A vida, assim, jamais cansa.

Da vez primeira em que me assassinaram,

Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.

Depois, a cada vez que me mataram,

Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou

O mais desnudo, o que não tem mais nada.

Arde um toco de Vela amarelada,

Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!

Pois dessa mão avaramente adunca

Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!

Que a luz trêmula e triste como um ai,

A luz de um morto não se apaga nunca!

Eu escrevi um poema triste

Eu escrevi um poema triste

E belo, apenas da sua tristeza.

Não vem de ti essa tristeza

Mas das mudanças do Tempo,

Que ora nos traz esperanças

Ora nos dá incerteza...

Nem importa, ao velho Tempo,

Que sejas fiel ou infiel...

Eu fico, junto à correnteza,

Olhando as horas tão breves...

E das cartas que me escreves

Faço barcos de papel!

Ah! Essas Precauções...

Para desespero de seus parentes, o velho rei Mitridates, como todo mundo sabe, conseguiu tornar-se imune a todos os venenos... até que um bom tijolaço na cabeça liquidou o assunto.

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento... Minha pedra de Calcutá!

A saudade da amada criatura

é bem melhor do que a presença dela.

Não faças da tua vida um rascunho.

Poderás não ter tempo de passá-la a limpo.

Esta vida é uma estranha hospedaria,

De onde se parte quase sempre às tontas,

Pois nunca as nossas malas estão prontas,

E a nossa conta nunca está em dia.

Tenta Esquecer-me

Tenta esquecer-me...

Ser lembrado é como evocar

Um fantasma... Deixa-me ser o que sou,

O que sempre fui, um rio que vai fluindo...

Em vão, em minhas margens cantarão as horas,

Me recamarei de estrelas como um manto real,

Me bordarei de nuvens e de asas,

Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...

Um espelho não guarda as coisas refletidas!

E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,

As imagens perdendo no caminho...

Deixa-me fluir, passar, cantar...

Toda a tristeza dos rios

É não poder parar!

Nós vivemos a temer o futuro,

mas é o passado que nos atropela e mata.

Para sempre é muito tempo. O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo.

O MATA-BORRÃO

O mata-borrão absorve tudo e no fim da vida acaba confundindo as coisas por que passou... O mata borrão parece gente!

LEGÍTIMA APROPRIAÇÃO

Copio e assino essa frase encontrada no velho Schopenhauer: "A soma de barulho que uma pessoa pode suportar está na razão inversa de sua capacidade mental".

Vinicius Moratta e Mário Quintana
Enviado por Vinicius Moratta em 10/01/2019
Código do texto: T6547142
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