Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. 

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. 

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 

Deles não quero resposta, quero meu avesso. 

Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. 

Para isso, só sendo louco. 

Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. 

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. 

Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. 

Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. 

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. 

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. 

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. 

Não quero amigos adultos nem chatos. 

Quero-os metade infância e outra metade velhice! 

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. 

Tenho amigos para saber quem eu sou. 

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde - Oscar Wilde

Paz!

Iraldir Fagundes e Oscar Wilde
Enviado por Iraldir Fagundes em 02/12/2018
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