Saudosismos
Tempos bons
Aquele do orelhão, eu pegava fila no sol escaldante pra conversar com um parente ou amigo, marcar consulta, tirar dúvidas.
Entre um chiado e outro, barulho de automóveis e caminhões.
Em dias de chuva, uma mão no ouvido, a outra segurando o telefone, o guarda-chuva por sobre os ombros.
Aquele das conversas nas varandas.
Geralmente nos domingos de tarde.
Toda uma semana pra colocar em dia nas prosas.
E dá-lhe café com leite, refinadas cucas, geleias naturais, pão de forno e risos a beça, mas tinha lágrimas também.
Aquele em que escrevia as Poesias e prosas nos cadernos.
Sempre sobrava um cantinho pra colocar um observação mais "calorosa". A magia das letras era eu que criava, ora deitada, ora em pé feito uma taquara, borrar era perder um texto inteiro.
Aquele em que fazia os documentos de exportação, todos batidos em máquina de escrever. Clientes ansiosos para receber as mercadorias lá no exterior. E correndo pro Banco do Brasil entregar as benditas guias para oficializar as operações. Um erro de digitação e lá vinha todo o serviço de volta.
Aquele em que inventava bolas em meias de "seda".Trilhas na beira da estrada rumo ao colégio. Banho em tanque de peixes, arapuca que nunca pegava nada, rsrs.
Hoje, há muitas pessoas que caminham no meio da multidão, celular de última geração na mão o tempo todo, andam o mais rápido possível para chegarem em casa e viverem na solidão.
A ansiedade gera a velocidade das nossas emoções.
A mil por hora ninguém consegue sentir a vida.