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Creio que já não são necessários olhos de lince para ver-me. Mas para que alguém nos vejam em profundidade, minha querida mestra, é preciso muito mais do que bons olhos, é preciso que estejamos livres dos nossos pecados mais agudos. Por outro lado, é sempre bom que a gente aprenda ouvir e ver, com o corpo e a alma. Do mesmo modo, é fundamental que o egoísmo não ocupe tanto espaço em nós, que não possamos ceder. Quantas vezes a senhora passou por mim naqueles dias medonhos e não me viu? E quantas vezes foi necessário que eu dissesse um amontoado de palavras tolas para que me percebesse de verdade? Mas não a culpo por isso, eu estava com a carapuça enterrada até o pescoço, não conseguia ver além do meu farto nariz.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 27/07/2017
Reeditado em 31/08/2020
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