Lago da Solidão

A tarde se prolongava preguiçosamente.

O lago e o vento pareciam dizer: ela não vem.

Reavivou-se em mim aquela sensação de que não a veria mais. Lutava contra isso. Ela teve algum compromisso, alguma tarefa que não pode adiar. Ninguém é livre o tempo todo. Pode ter adoecido. Uma gripe... febre. Precisou ir ao Banco pagar uma conta... Seu pai ou sua mãe impediram que ela saísse, como castigo por alguma coisa que ela fez ou deixou de fazer...

Imaginei todos os motivos possíveis e normais que poderiam impedi-la de vir ao lago. Ainda assim foi inútil. Parece que há em cada um de nós a necessidade imperiosa de aceitar que o pior aconteça. Se um filho ou uma filha não chega da escola no horário costumeiro, logo se imagina que alguma coisa ruim aconteceu.

Ela virá. Antes que o sol se ponha ela chegará.

Não! Não virá!

Vem!... Ela vem!

Não vem!

O sol estava se escondendo, como que chateado com a minha frustração, projetando sombras em vez de luz, permitindo que a escuridão chegasse. O lago não dizia nada. Era indiferente ao que eu sentia. Um vento frio veio do nascente, tocou a água de leve, fazendo-a vibrar com pequenas ondas, acariciou meu rosto, sussurrou aos meus ouvidos. Senti um arrepio. O inverno estava próximo.

Isidio
Enviado por Isidio em 07/07/2017
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