Lago da Solidão
-- Não lhe dei um nome. Mas eu o chamo de meu amigo do lago.
-- Bom, já é alguma coisa... e pode confiar em um amigo sem nome?
Ela pensou um pouco, e respondeu:
-- Muitas pessoas têm nomes ilustres, nomes de famílias tradicionais, ricas, influentes, mas não merecem nenhuma confiança. Sim, eu confio em você, meu amigo do lago; e não preciso de nenhuma garantia para essa confiança.
-- Por quê?
Não me respondeu logo. Olhava para o lago, movendo os olhos e a cabeça de um lado para o outro, como buscando resposta para minha importante pergunta.
-- Está vendo aquele pássaro que pousou agora na beira do lago? Ali – disse apontando com o dedo. – Ele nasceu em um ninho, no alto de uma árvore, até que chegou o momento de seu primeiro voo. Não perguntou se era seguro, não teve instrutor, ninguém lhe deu nenhum documento de habilitação; confiou no seu instinto e pulou. Talvez o primeiro voo tenha sido vacilante e curto, mas foi o começo para o que ele está fazendo agora sem nenhum medo de cair. – Fez uma breve pausa, e concluiu: – Eu sou aquele pássaro, e você é o meu espaço aonde pretendo voar.
A essas últimas palavras, senti uma emoção invadir o meu peito, enchendo-me de energia formigante, subindo pela garganta, arrepiando-me os pelos. Por alguns segundos não senti o banco nem os pés sobre o chão.