Lago da Solidão
-- Êi! No que está pensando? Por que ficou tão silencioso?
-- Eu estava pensando no quanto você é diferente de todas as pessoas que conheço!
-- Como pode saber que sou diferente? Você não me conhece!
Eu poderia ter dito que a culpa era dela de não a conhecer. Mas eu estava me libertando dos conceitos formais. Já podia pensar diferente, e devia isso a ela.
-- Tem razão, não lhe conheço. Não sei o seu nome, quantos anos tem, onde nasceu, quem são os seus pais... mas...
-- Mas?
-- Mas conheço a cor de seus olhos, dos seus cabelos, o timbre de sua voz; conheço o seu sorriso, ainda que muito raro e, às vezes, triste... estou vendo os seus braços, suas mãos e seus pés; seu corpo inteiro, sua estatura e peso aproximado; percebo o pulsar de seu coração, sinto a sua respiração... o seu cheiro... portanto, conheço você da forma que me é possível conhecer!
-- Uau! Você é poeta!
-- O quê? Não, não sou!
-- É sim – ela insistiu, sorrindo –, só um poeta fala do jeito que você falou.
-- Olha, saiu assim de repente... os poetas pensam muito e escrevem seus pensamentos... eu não faço nada disso. Não sou poeta.
Ela me deu um soco de leve no meu ombro.
-- Você é tímido... o meu poeta tímido!