Para Provocação - dos Aforismos de Oscar Wilde

“Oscar Wilde nasceu em Dublin em 1.854, Poeta, Romancista, comediógrafo, é, sem dúvida, o mais importante escritor da época vitoriana. Em 1.895, no auge de sua fama, foi condenado por homossexualismo à dois anos de cadeia, experiência terrível e difamatória que o marcou indelevelmente pelo resto de sua vida. Morreu em 1.900. Entre sua obras, citamos : Salomé, o Legre de Lady Windermere, o Retrato de Dorian Gray, De Profundis”.

“Nestes Aforismos, publicados um ano depois da morte de Oscar Wilde por Robert Ross, executor de seu testamento, tem-se a impressão de poder ouvir a voz do próprio escritor trabalhando requintadamente as palavras que serão, em seguida, sistematizadas definitivamente sobre o papel. É a sua parte mais verdadeira, e também a mais enganosa, que só uma aparente futilidade se mostra terrivelmente profunda e estranhamente reveladora. Como disse G.B. Saw, ainda que Wilde tivesse sido um homem “normal”, um inocente “dandy”, deixado em paz no seu leito uma seleção de seus aforismos estaria seguramente nas estantes ao lado das máximas de La Rochefoucauld”.

Desses Aforismos, e para provocação, selecionei aqueles que citam apenas as mulheres, ou a elas relativo.Mas não tenham essas citações como ofensivas às mulheres, antes disso, como algo que as enaltece, dado que, em alusão a fábula de La Fontaine “A raposa e as uvas”, e, divergindo de Wilde até por questões fisiológicas, admiro-as e nutro por elas grande fascinação, e, por não poder tê-las todas, as provoco dessa forma.

Outro cuidado que peço, é de não se criar um estereótipo ou formar uma opinião a respeito de Wilde baseado apenas nessa compilação, o autor e sua obra de grande valor literário, com certeza não poderia se resumir nisso, o que seria uma grande injustiça.

Lá vai :

As mulheres foram feitas para serem amadas, e não para serem compreendidas.

Segundo alguns, as mulheres amam com os ouvidos, exatamente como os homens amam com os olhos; admitindo-se que realmente amem.

Vinte anos de romance tornam uma mulher uma ruína, mas vinte anos de casamento a transformam num monumento.

Hoje em dia é muito perigoso, para um marido, ser gentil em público com a mulher: isto faz com que as pessoas pensem logo que ele a surra na intimidade. De tão grande que é a incredulidade do mundo por aquilo que tem a aparência de felicidade conjugal.

Os homens conhecem a vida cedo demais; as mulheres a conhecem tarde demais, eis a diferença entre homens e mulheres.

Enquanto uma mulher consegue dar a impressão de ser dez anos mais jovem que a filha, ela é uma mulher feliz.

O noivado, para uma jovem, deveria acontecer como uma surpresa agradável ou desagradável, conforme o caso. Não é, de fato, um assunto que ela deveria ter permissão de decidir por conta própria.

A mulher que não sabe tornar agradáveis os seus erros não passa de uma fêmea.

O mundo foi feito para os homens, não para as mulheres.

O homem pode amar o que lhe é inferior, pode amar até coisas indignas, manchadas, conspurcadas. As mulheres adoram quando amam; e quando perdem essa adoração, perdem tudo.

A base lógica do casamento é o recíproco mal entendido.

Os politiqueiros são o único prazer das damas. É fácil constatar que atualmente não fica bem, para uma mulher de quarenta anos, sair flertando por aí; e tampouco tem graça continuar romântica aos quarenta e cinco; agora, as pobres coitadas que estão perto dos trinta, já não têm outra escolha a não ser a política e a filantropia. E a filantropia parece ter se tornado o refúgio das pessoas com vontade de chatear seus similares. As damas preferem portanto os politiqueiros. Eles são mais... convenientes.

Ter segredos com as mulheres dos outros é um luxo necessário da vida moderna; é pelo menos o que contam no clube certas pessoas bastante carecas para conhecerem o assunto. Mas um homem nunca deveria ter segredos com a sua própria mulher. Ela invariavelmente descobre. As mulheres têm um instinto maravilhoso, descobrem tudo, a não ser o que é evidente.

O pranto é o refúgio das mulheres feias, mas é a ruína das graciosas.

Uma mulher precisa ser sinceramente boa para fazer uma coisa sinceramente idiota.

Dêem às mulheres as devidas oportunidades e elas farão qualquer coisa.

Na verdade não vejo nada de romântico nos pedidos de casamento. O amor é muito romântico, mas não há nada de romântico ao se pedir a mão de uma jovem. Corre-se sempre o risco de ela aceitar. Aliás, acredito que na maioria dos casos seja isso mesmo que acontece. Aí qualquer interesse desaparece. A incerteza é a quinta essência do romantismo.

A verdade não é propriamente o que contaríamos a uma boa, educada e fina mocinha.

As mulheres têm uma verdadeira paixão pelo perigo. É uma das qualidades que mais admiro nelas. Uma mulher irá flertar com quem quer que seja, desde que tenha um público que a veja.

As inglesas escondem os seus sentimentos até se casarem. Aí os ostentam.

As mulheres feias são sempre ciumentas dos maridos; as bonitas, nunca! Não têm tempo para isto. Estão ocupadas demais com o ciúme dos maridos das outras.

Um homem que faz sermões morais é quase sempre um hipócrita, e uma mulher moralizadora é invariavelmente feia. Nada há no mundo que caia tão mal a uma mulher quanto uma consciência rígida demais. Ainda bem que a maioria das mulheres está convencida disso.

Podem rir a vontade, mas encontrar uma mulher que nos compreenda profundamente é a coisa da maior importância.

Em Londres chega a ser escandaloso o número de mulheres que flertam com os próprios maridos. Dá para ficarmos horrorizados. É exatamente o mesmo que lavar em público a roupa suja.

Para o filósofo, a mulher representa o triunfo da matéria sobre o espírito, exatamente como o homem representa o triunfo da inteligência sobre a moral.

O único jeito de uma mulher reformar um homem é chateando-o até que ele perca qualquer interesse pela vida.

Desconfie de uma mulher que confessa sua verdadeira idade. Uma mulher que diz isto, poderá dizer qualquer coisa.

Procurem não se perder nos labirintos da virtude. Eis o grande defeito das mulheres. Sempre querem que sejamos virtuosos. Mas se nos mostramos cheios de virtudes quando as conhecemos, elas simplesmente nos ignoram. Gostam de encontrar-nos inteiramente malvados, e de tornar-nos intoleravelmente bonzinhos.

As mulheres malvadas nos atormentam. As boas nos aborrecem. É nisto que consiste a diferença entre elas.

Não acredito na existência de mulheres puritanas. Acho que não há uma única mulher no mundo que não se sentiria lisonjeada ao ser cortejada. E é justamente isto que torna as mulheres tão fascinantes.

Os homens casados são terrivelmente enfadonhos quando são bons maridos, e abominavelmente fátuos quando não o são.

Não pode haver amizade entre um homem e uma mulher. Pode haver paixão,hostilidade, adoração, amor, mas não amizade.

Se não quiser parecer enganosamente misteriosa, uma mulher nunca deveria declarar abertamente a sua idade.

Não concordo com noivados longos. Eles permitem que os futuros cônjuges conheçam o respectivo caráter antes do casamento, coisa que considero absolutamente indesejável.

É terrível, para um homem, descobrir que durante a vida inteira só disse a verdade.

Trinta e cinco anos é uma idade muito atraente.

Na sociedade londrina há milhares de mulheres que ficaram donas de si mesmas com trinta e cinco anos.

Esta Câmara horrorosa acaba de arruinar os maridos. No meu entender, a Câmara baixa infligiu a mais grave ferida que jamais foi imposta a felicidade conjugal, depois que inventaram aquela coisa horrível que chamamos de instrução superior para a mulher.

Gosto dos homens com um futuro e das mulheres com um passado.

Segundo um ditado francês espirituoso, as mulheres inspiram-nos o desejo de criarmos obras-primas, e nunca nos deixam concretizá-las.

Com a mulher, a verdadeira tática é cortejá-la se for graciosa, e cortejar a outra se ela for feia.

As mulheres doam ao homem o verdadeiro ouro da vida delas. Pode ser, mas é uma pena que o pedem de volta em trocados de teor tão baixo.

A definição do sexo feminino? Uma esfinge sem segredos.

Como definir uma mulher perversa? Ora, aquela de que a gente nunca se cansa!

Podemos resistir à tudo exceto às tentações.

Sempre podemos reconhecer pelo olhar se um homem tem ou não encargos domésticos que lhe pesam. Já reparei numa expressão de profunda tristeza nos olhos de inúmeros homens casados.

Uma mãe que não se separa da filha no fim de cada estação não conhece a verdadeira afeição.

Nada existe no mundo comparável à devoção de uma mulher. Os homens nem se dão conta disso.

A mulher não deveria ter memória. A memória, numa mulher, anuncia o fim da juventude. Sempre podemos perceber pelos cabelos se uma mulher tem ou não tem memória.

O Livro da Vida começa com um homem e uma mulher num jardim e acaba com as revelações.

Na vida conjugal, três são uma turma: dois não.

Quando uma mulher volta a se casar quer dizer que detestava o primeiro marido. Quando um homem volta a se casar quer dizer que adorava a mulher. A primeira quer provar a sua sorte. O segundo a arrisca.

Sempre falem com uma mulher como se estivessem apaixonados, e com um homem como se estivessem enfadados; no fim da temporada vocês terão criado a fama de possuidores do mais requintado tato social.

O homem – aquele pobre, desajeitado, atrapalhado e crédulo ser que é o homem – pertence a um sexo que há milhões e milhões de anos foi provido de razão. Não é culpa dele, é de sua natureza. A história da mulher é muito diferente. Ela sempre foi um pitoresco protesto contra o bom senso; ela adivinhou desde o começo todo o perigo do raciocínio.

Hoje em dia os casamentos desmoronam mais devido ao bom senso do marido do que por outra coisa. Como poderia uma mulher ser feliz com um homem que a considera perfeitamente racional?

Se uma mulher quiser continuar mantendo o seu domínio sobre um homem, só precisa apelar para aquilo que há de pior nele.

Os homens sempre desejam ser o primeiro amor de uma mulher; este é um efeito de insensata vaidade. As mulheres têm um instinto mais sutil. Elas desejam ser o último amor de um homem.

Quando uma mulher percebe que já não é objeto das atenções do marido ou se esquece de qualquer elegância, ou ostenta chapéus extremamente elegantes, pagos pelo marido de outras.

As mulheres virtuosas têm uma perspectiva muito estreita da vida, com uma visão muito limitada e interesses mesquinhos. Em poucas palavras, elas não são modernas, e a modernidade é a única coisa que vale hoje em dia.

O homem se casa porque está cansado, a mulher porque está curiosa. Ambos ficam decepcionados.

Todos os homens são propriedade das mulheres casadas.

Não há nenhuma outra definição da propriedade da mulher casada.

Todas as mulheres tornam-se parecidas com as mães. É a tragédia delas. Isto não acontece com os homens; e aí está a tragédia deles.

As mulheres são um sexo fascinante e cabeçudo. Toda mulher é rebelde; por via de regra insurge violentamente contra si mesma.

Deveríamos estar constantemente apaixonados. É por isto que nunca deveríamos nos casar.

A história da mulher é a pior tirania que o mundo já conheceu: a tirania do fraco sobre o forte, e é a única tirania que dura.

A felicidade de um homem casado depende das mulheres com as quais ele não se casou.

As mulheres nos amam pelos nossos defeitos. Se tivermos um número suficiente deles, elas nos perdoarão tudo, até a nossa grande inteligência.

A sociedade é uma coisa necessária. Ninguém consegue alcançar sucesso de verdade, no mundo, se não tiver o apoio das mulheres, pois as mulheres regem a sociedade. Se não tiverem as mulheres ao seu lado, vocês estarão fora do mundo. E poderiam ser igualmente de forma fracassada um advogado, um especulador da bolsa ou um jornalista.

Não há coisa que as mulheres apreciem mais do que a crueldade. Elas guardam maravilhosamente dentro de si os instintos primitivos. Nós as emancipamos, mas elas continuam sendo mesmo assim, obedientes, escravas dos seus amos. Elas gostam de ser dominadas.

Nenhum homem é esperto quando não sabe conseguir as coisas; assim como nenhuma mulher é esperta ao conseguir para si o pior e mais inútil dos males, um marido.

A única fascinação do passado é que ele passou. Mas as mulheres nunca percebem quando o pano já desceu. Elas sempre pedem o sexto ato, e logo que a parte interessante da comédia passou, pedem a continuação. Se pudessem dirigir a ação do jeito delas, toda comédia teria um fim trágico, e toda tragédia acabaria como uma farsa. Elas são deliciosamente artificiais, mas não têm o menor sentido da arte.

Há maridos que são como uma lista de promessas que as mulheres se cansam de ler.

Não acreditem na mulher que se veste de roxo, qualquer que seja a idade dela; ou numa mulher com mais de trinta e cinco anos que goste de fitas claras. Isto indica que têm uma história atrás de si.

Que bobagem falar de casamentos felizes; um homem pode ser feliz com qualquer mulher, desde que não a ame de verdade.

A vida em sociedade é uma necessidade. Sem o apoio das mulheres nada se consegue, e as mulheres são as rainhas da sociedade. Se você não tiver as mulheres do seu lado estará acabado. Tanto faria, então, tornar-se logo advogado, operador da bolsa ou jornalista.

A dúvida e a desconfiança transformam a afeição em paixão, dando origem àquelas lindas tragédias que tornam a vida digna de ser vivida. Houve uma época em que as mulheres percebiam esta verdade e os homens não, e foi então que as mulheres dominaram o mundo.

Hoje em dia os maridos vivem como homens solteiros, e os solteiros como homens casados.

O mundo está realmente cheio de mulheres virtuosas. Conhecê-las equivale a uma instrução mediana.

Muitos maridos não sabem apreciar as qualidades das suas mulheres. Para isto, elas devem recorrer à outras fontes.

Parece que as mulheres londrinas só sabem decorar seus aposentos com orquídeas, forasteiros e romances franceses.

É muito tedioso ser adorado. As mulheres nos tratam como a humanidade tratou os seus deuses. Não param de nos adorar e de nos atormentar, porque fizemos alguma coisa para elas.

A mulher nunca é genial. Trata-se de um sexo decorativo. Nada tem a dizer, mas diz aquele nada com garbo.

Nunca devemos entender uma mulher. As mulheres são imagens; os homens são problemas. Se você quer saber o que uma mulher de fato pensa – desejo que nunca deixa de ser perigoso – precisa olhar para ela, não ouvi-la.

A mulher normal nunca tem alguma coisa a dizer à imaginação. Ela está limitada no seu século. Nenhuma fascinação a transfigura. A alma dela é patente e pode ser reconhecida como o seu chapéu. Ela está sempre ao alcance da mão. Nenhum mistério a envolve. Dá os seus passeios a cavalo de manhã e tagarela diante da mesa do chá da tarde. Tem um sorriso estereotipado e usa roupas com as cores da moda.

Só há duas categorias de mulheres: as feias e as pintadas. As mulheres feias são muito úteis. Se você quiser gozar de uma respeitável reputação, só precisa levar uma delas para jantar. As outras, porém, são fascinantes. Mas cometem um erro: pintam-se para parecer mais jovens.

A fidelidade é para a vida sentimental o que a coerência é para a vida do espírito: uma pura e simples confissão de incapacidade.

Como se exagera o valor da fidelidade! Até no amor trata-se apenas de uma questão fisiológica. Nada tem a ver com a nossa vontade. Os jovens gostariam de ser fiéis e não podem sê-lo. Os velhos gostariam de ser infiéis e não conseguem; não há mais nada a dizer.

Não há outro jeito de livrar-se de uma tentação a não ser sucumbindo a ela. Se você resistir, a sua alma adoecerá desejando aquelas coisas que lhe foram recusadas.

As mulheres estragam qualquer caso de amor com o seu desejo de perpetuá-lo eternamente.

Os maridos das mulheres muito bonitas pertencem ao mundo do crime.

Para mim a beleza é o milagre dos milagres. Somente os seres superficiais não julgam pela aparência. O verdadeiro mistério do mundo é o visível, e não o invisível.

As mulheres não sabem apreciar a beleza no homem; pelo menos não sabem apreciá-las as boas mulheres.

Os amantes fiéis só conhecem o lado trivial do amor; as tragédias do amor são privilégios dos amantes infiéis.

Londres está cheio de mulheres que confiam nos seus maridos. É fácil reconhecê-las, de tão infeliz que é o olhar delas.

Que desgraça para o homem, o casamento! Ele o escraviza quanto os cigarros, e custa muito mais.

A fascinação do casamento consiste no fato dele tornar necessária para ambos os cônjuges uma vida de enganos.

É difícil não sermos injustos com aquilo que amamos.

As mulheres se parecem com os menores, vivem de suas esperanças.

Para recuperarmos a juventude,só precisamos repetir as nossas loucuras.

Nunca se casem com uma mulher de cabelos cor de palha. Ela é sempre muito sentimental.

Todos já sabem que não sou um defensor do casamento. O verdadeiro inconveniente do casamento é que ele torna as pessoas altruístas, e quem não é egoísta falta de colorido de individualidade. Alguns, no entanto, tornam-se mais complexos com o matrimônio. Guardam o seu egoísmo acrescentando-lhe muitos outros egoísmos. São forçados a viver mais de uma vida. Adquirem um organismo mais complexo, e a complexidade do organismo é a finalidade, acredito, da vida. E além do mais toda experiência tem seu valor e, afinal de contas, seja o que for que pensemos do casamento, ele não deixa de ser uma experiência.

O matrimônio é uma espécie de estufa. Leva ao amadurecimento de estranhos pecados, e às vezes estranhas renúncias.

Aquela dama estava usando arrebique demais, ontem à noite, e roupa de menos. Isto é sempre sinal de desespero, numa mulher.

Sinto pena de uma mulher casada com um homem que se chama John. Provavelmente nunca poderá saborear nem mesmo por um instante as encantadoras delícias da solidão.

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 23/07/2007
Reeditado em 30/05/2011
Código do texto: T576763
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