Intimidades 237
Olho-te. A testa alta, a profundidade dos olhos, o nariz clássico, a boca carnuda, o turbilhão dos abraços, a pressa de despir-te, a mistura, a febre, a boca a perder-se na minha, o ar atropelado, a magia das palavras que se mordem e se matam sem querer. És a terra, o céu, o caos, a noite. És a fome, a sede, o torpor, a força. És a suavidade. Em ti sou leveza que paira com medo que sejas só aroma, só a seda da pele, só o som raspado da profundidade. Arrisco as mãos, a língua nos espantos, corro fronteiras, amplio os caminhos por onde corre, festiva, a natureza, por onde chego à tua taça de fogo, à ânsia, ao desespero, à morte. Só depois recolho nos meus olhos a beleza inteira e volto a ser noite.