Intimidades 117

Escrita Rouca – É um livro de poesia. Ia a escrever como outro qualquer mas este fui eu a escrever e, portanto, vem marcado de diferença. Os poemas não são nem lineares nem claros por não ter sido possível escrevê-los limpos, depurados, livres da minha ganga, da minha maneira tantas vezes rude de ser. Há vozes que amamos roucas, baixas, sensuais, daquelas que exigem toda ou nenhuma atenção. Há palavras que vibram misturadas a sons marginais que acabam por significar outras coisas bem diferentes: amor, paixão, esforço. E a voz pode dizer sem ter dito, pode ser escutada pela pele, pode tudo ser mistério ou, a direito, não ter qualquer importância ser rouca. São escritos intensos. Plasmei-me neles, deixei nas palavras tudo o que sou e, ainda, o que gostaria de ser. Este livro tem raízes de memória, de antologia de afetos, de caminho. Sinto ter chegado a uma estação da viagem e preciso descansar as asas porque tudo o que pensei, senti, vivi e contei foi no corpo leve de um pássaro que já vem do outro lado do tempo. Por ele, pude deixar à espera o homem vulgar cheio de feridas e pesos como a sentinela que adormeceu na sua própria vigília. Este não é só mais um livro de poesia.