Uma epígrafe de Albert Otto Hirschman e umas poucas referências.

De minhas leituras – sou um leitor compulsivo – adquiri o hábito de sublinhar trechos que tenham me chamado particularmente a atenção. Alguns deles eu os tenho repercutido por aí. Mas agora já são tantos que resolvi que mereciam ser catalogados para, no momento oportuno, serem lembrados. Abaixo segue o primeiro deles.

“Todos sabem que criticar um amigo é mais difícil e, portanto, muito mais interessante do que voltar a apontar os erros fastidiosos dos adversários. Daí um certo prazer intelectual nesse exercício de ‘auto-subversão’. (...)
Durante anos colecionei aforismos ou frases que às vezes surgem em pares opostos, e que considero especialmente sutis e pertinentes. Um exemplo notável é, por um lado, a frase proto romântica de Vauvernagues, ‘les grandes idées viennent du coeur’ (as grandes ideias proveem do coração) e, por outro lado, a curiosa contra afirmação de Paul Valéry, ‘nos plus importantes pensées sont celles qui contredisent les sentiments’ (as ideias mais importantes são as que contradizem os nossos sentimentos). Como Niels Bohr afirmou, há dois tipos de verdade. Em primeiro lugar há ‘a verdade pura e simples’ de uma afirmação cujo oposto é, obviamente, falso. E há as ‘grandes verdades’ cujos ‘contrários são também grandes verdades’. O par Vauvenargues-Valéry é um exemplo particularmente feliz dessas grandes verdades”.


Albert Otto Hirschman em ‘A retórica da intransigência – dois anos depois’ ao dar uma conferência na Universidade de Harvard em abril de 1993.

Referências:
Marquês de Vauvernagues: cujo nome era Luc de Clapiers, escritor francês nascido em 1715 e morto em 1747;
Paul Valéry: filósofo e poeta francês nascido em 1871 e morto em 1945;
Niels Bohr: cientista dinamarquês nascido em 1885 e morto em 1962.