Inferno, tão perto de nós
O Navio Negreiro
...de Castro Alves é o Poema mais impressionante que eu já li.
Mentiria se falasse que as imagens de demônios não se formam em minha mente e lágrimas como de perdão tardio não corressem pelo meu rosto ao ler ou escutar esse belo Poema.
Com palavras em puro sangue, com cheiro e cor de vermelho vivo
escorrendo nau afora, misturando-se aos verdes mares, em noites salpicadas de estrelas, com os ais sob os chicotes misturando-se aos gritos das gaivotas apenar dos homens, mulheres e crianças, negros acorrentados.
Hoje ainda, Homens malditos continuam a guardar em si a malevolência e com ela tornam aos demais escravos seus.
Que queimem para sempre no inferno e sobre eles os urubus, pobres inatos, façam dos seus restos putrefatos banquetes pastosos e imemoriáveis.
Os tempos mudaram
Mudaram os costumes
Mudou o mundo
Só não mudou o Homem inimigo de si mesmo
Imoral consigo mesmo até cair no cadafalso.
Insensíveis e indiferentes ninguém fará ouvir os estalos dos seus pescoços partidos E nem verá as suas cabeças rolantes sob as frenéticas guilhotinas de sangue incolor, ainda quente a jorrar.
Continuamos com a escravidão dos tempos de outrora em forma de servidão.
Paga-se uma miséria para a maioria servir acorrentados as suas impagáveis dívidas para uma minoria de dois ou três únicos patrões neste vasto mundo.
Os navios negreiros agora com escravos brancos também, tornaram-se Bancos com a proa virada para o inferno.
...E pior ficará a cada ano que passar.