RUDEZA DA SAUDADE
Antes, se ouvisse que saudade sufoca ao extremo até a perda dos sentidos, creditaria o dizer ao imaginário popular, ao folclore comezinho, ao hilário trivial.
Hoje, desde um passado pouco distante, quase não resisto sentimento que se assemelha ao torque de um golpe que leva ao nocaute, ao qual evito sucumbir quando anuviado em particular lembrança.
Imerso em pensamentos freados em data vil, assumo-me, como um aventureiro solitário da Rota-66, em pleno deserto, desidratado e tomado de sede incontrolável de um amor, cuja fonte se secou.
Nessa estrada que se alonga, sintonizo "Yesterday", interpretada por Ray Charles, e acelero; a vida continua ao encontro da poeira que turva a visão e rumo a horizonte incerto e sem fim.
Rude é a saudade!