PREFÁCIO
"Numa linda manhã de outono, no ônibus que descia para o litoral, para uma visita a minha irmã, sem nada para ler, e recebendo o sol no rosto, fechei os olhos e comecei a ver cores, manchas de cores fortes, vivíssimas, verde, violeta, azul anil, dourado, lilás; e elas se revezavam aleatoriamente, sem que eu pudesse controlar o fenômeno.
Pensei ser efeito da luz sobre minhas pálpebras que, mesmo fechadas, sensibilizava a retina e provocava essas “visões”. Então resolvi tapar os olhos com as mãos e, mesmo na obscuridade, lá estavam as cores, mais nítidas e brilhantes do que as “reais”. Depois, comecei a “ver” também paisagens, árvores, estradas; via nitidamente o asfalto cinza com as faixas amarelas dividindo as pistas, como se estivesse correndo em alta velocidade em um automóvel pequeno. Eu não dirigia, então podia olhar para os lados, ou não sei se via tudo com um ângulo maior do que vemos habitualmente. Via as árvores, os barrancos e as serras ao longe passarem rapidamente, numa alucinante viagem no interior de mim mesma.
De vez em quando abria os olhos, para certificar-me de que não estava sonhando. E assim fui, até lá, e não senti o tempo passar. Foi a viagem mais curta e a que mais curti, descendo a serra.
Ao chegar à casa de minha irmã, escrevi um pouco sobre isso para não esquecer, depois contei para ela, que achou tudo muito estranho, e disse que isso era coisa de extra-terrestre."
(Trecho do Prefácio de um talvez futuro livro a chamar-se "Autobiografia de um E.T.)
Imagem colhida na Internet, do filme "E.T. O Extraterrestre", de Steven Spielberg.