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                      o)O(o POESIA NOTURNA o)O(o
                                      
         
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     "Quantos momentos passamos em lembranças que mais parecem chagas, ou asas! Quantas vezes, a alma em sonhos parece gargalhar de nossa finitude humana... E a alma, cárcere de tantos desejos! De tantas ilusões! Olhos abertos, abraços vazios..."
                          
(Comentário dela à minha "Canção do Inútil Lamento")

                                                    
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                                             Leitura crítica do Jô:
     A intertextualidade ou interdiscursividade são evocações do enunciatário, ao ler/recriar/reinterpretar/reconstituir os sentidos de um enunciado, lembrando-se de outros textos análogos. Essas evocações podem surgir como:
a) "intertextualidade implícita" (alusões às vezes até involuntárias do emissor (ou produtor), que despertam a memória do destinatário (ou receptor) para textos paralelos e afins) e

b) "intertextualidade explícita" (citações, resumos, resenhas, referências etc. no claro propósito de facilitar as coisas).
     A intertextualidade é implícita entre o discurso da Lady - acima, e o soneto de João da Cruz e Sousa - abaixo:
          Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa,
          soluçando nas trevas, entre as grades
          do calabouço olhando imensidades,
          mares, estrelas, tardes, natureza.

          Tudo se veste de uma igual grandeza
          quando a alma entre grilhões as liberdades
          sonha e sonhando, as imortalidades
          rasga no etéreo Espaço da Pureza.

          Ó almas presas, mudas e fechadas
          nas prisões colossais e abandonadas,
          da Dor no calabouço, atroz, funéreo!


          Nesses silêncios solitários, graves,
          que chaveiro do Céu possui as chaves
          para abrir-vos as portas do Mistério?!
                         
(João da Cruz e Souza, poeta simbolista)


     O soneto, clássico em nossas letras, expressa o delírio das vastidões celestes, adstritos a um tempo e um espaço dolorosos, porque produtos de um eu-lírico já sem sonhos ou alegrias. Ainda assim, esse homem eleva os olhos e as mãos, clamando por alguém que abra o coração dos grandes enigmas para que os espíritos transponham os portais do entendimento e da felicidade. 
     Constata-se por conseguinte que Cruz é não o cantor dos seus lamentos apenas, mas o tradutor ecumênico dos anseios universais.

     O texto da Lady nos captura pela intensidade e a magnitude da sua mensagem - metafísica, dialética, polifônica, eloquente. A alma nas alturas. Música nos olhos, voz e atos. Gentura nos mínimos gestos.
     Embora com menor fulgor literário, menor tratamento estético que o do Dante Negro, não desmerece a literatura brasileira.  Ao colocar questões íntimas como:
          "Olhos abertos, abraços vazios..."

ela se apresenta perante o Firmamento com a mesma dúvida, a mesma angústia, a mesma legitimidade, os mesmos direitos de todo ser humano: Por quê?!


     
Fontes de consulta:
Dicionário Aulete Digital. Lexicon Editora
Digital. SP, 2010.  Acesse: 

http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital

Dicionário de Português | Michaelis - UOL.
Editora Melhoramentos Ltda., SP, 2009.
Na internet:
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/


Estratégias de Leitura: Texto e Ensino. Maria 
Lino Pauliukonis e Leonor Werneck dos Santos. (Orgs.) 
190 págs. Editora Lucerna, RJ, 2006.

     
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 26/09/2012
Reeditado em 20/07/2013
Código do texto: T3901532
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