Escatologia Facebookiana - [6]

Um cara no ônibus, após ter secado um refri de latinha, viu que não tinha lixo e sabe o que ele fez? Guardou a lata num bolso lateral da mochila. Fiquei comovido e com vontade de parabenizá-lo. Depois me senti estúpido por pensar em tal atitude, já que é uma coisa BÁSICA. E a culpa dessa mistura de sensações é dos porcos que não hesitariam em defenestrar a droga da lata e que sempre me inspiram instintos assassinos.

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Olhares furtivos carregados de melancolia querendo subtrair do tutano de qualquer ossinho de galinha um alento a uma nova poesia: assim caminha o escritor no meio da multidão, tão anônimo e ignoto como qualquer Deus.

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Facebook e o dom de indicar quem eu quero mais é que gire eternamente nas grelhas do inferno.

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Na verdade, eu seria realmente feliz com uns Xanax - ou com umas Xanas.

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Eu devo ser mesmo merecedor dessa camarilha de acéfalas que nutrem apreço por mim.

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Se eu anotasse cada má notícia que tenho por dia, daria um calhamaço dos grandes, ao final da minha vidinha.

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"Quando eu passo por essas ruas, encolhido e tímido, sinto uma alegria infinita em olhar as mulheres que passam deslumbrantes e esqueço-me durante horas inteiras a idear os estragos com que o tempo as há de envelhecer e gastar, as doenças que as hão de desfigurar, as aflições que as porão mais estragadas do que as amantes dos marujos e dos soldados" - Albino Forjaz de Sampaio

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Liberdade é pouco. O que eu quero é um COMA até o JUÍZO FINAL.

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"É a maldição da vida dos escritores, quererem ser elogiados e serem assim tão humilhados pelas censuras ou pela indiferença." - Virginia Woolf

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Não me importaria se saísse Zyklon B do ar-condicionado do Metrô...

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Reclamo, logo, existo.

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Vontade de arrancar aquela plaquinha de "Fale ao motorista somente o indispensável" e colar na testa.

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Ser livre é ser alienado a si próprio.

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Todo o conhecimento que você apreende se volta contra você. Manter-se na ignorância é evitar esse traiçoeiro câncer bumeranguesco.

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Escrever é, segundo o que me consta, o mais aviltante dos vicios. Escreve-se como um alcoolatra bebe; escreve-se como um crackeiro carece de uma cachimbada; escreve-se como erotômano precisa de uma bimbada.

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Frase feita é muleta para cérebro que coxeia.

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Existem pessoas interessantes e pessoas que gostam de calor.

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Quanto mais perto da segunda-feira, maior o turbilhão de remorsos por não ter feito nada que se aproveite. E, mesmo fazendo, o remorso chega. Não tem jeito.

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Vocês que possuem Ensino Superior e escrevem feito analfabetos funcionais me deixam na dúvida entre morrer de orgulho ou vergonha.

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2011

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 24/03/2012
Código do texto: T3574188
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