Frases interrogativas V
Para que desvendar mistérios?
Há um mistério em tudo
Na espada nos escudo
No claro no escuro, do lado de cá
E no de lá do muro
Há um enigma no sorriso da moça
No sino da ave-maria
Na rede de mate na anatomia
No cheiro da grama cortada
Na coruja que pia
No sabor do chocolate
No que omite o vate.
No cão que fareja meu cheiro
Nos fios d’água do chuveiro
No que tem muito
E no que não tem dinheiro
Há uma revelação no anel no dedo
No ator que encena o enredo
Quase nada é revelado
Sobre o futuro e o passado
O mistério da fé se revela ao devoto
Na beatitude da prece
Depois do terremoto
No sal da lágrima, no ato consumado
Na curva da esquina
Na tentativa de atentado
Que segredo esconde o canto dos grilos nos quintais
O dos sapos no lagoais
E o do ruminantes nos currais? Não sei , talvez saibais!
O que há de oculto no cheiro do mato seco molhado
No dim dim dom do violeiro do povoado
Na emoção do atleta vencido, ultrapassado.
Há séculos de mágoas nas canções do fado,
Na minha sede transcendente, nas cores do sol da meia noite no poente.
Não consultei a fumaça da magia
Nem os magos da profecia
Eu ouvi meu coração e persegui a simetria
Pois há os mistérios das abelhas
E o da chuva nas telhas
No grande olhar hermético
E no primeiro orgasmo estético
Há uma sugestão cerebral
Na salada atonal e na poeira do vendaval
Há os caminhos estreitos
Os planos malfeitos
O sangue da jurema
E as plumas da seriema,
Há a absolvição e a vontade saciada.
Fibonacci procurou desvendar o belo
Na divina proporção da natureza
E eu a procuro sem tristeza
À moda do filósofo pessimista
Na arte dos sons, nos repentistas
Na estranha voz dos anjos solistas
Consulto os mistérios não com a intenção de desvendá-los
Mas por simplesmente amá-los
A Lázaro foi dado o desvendar de um e ele preferiu não ter acordado...
E os mistérios dos cemitérios? – agora são ossos, depois destroços.