JÁ QUE ESTÁ TODO MUNDO FALANDO NISSO 2

Amy Whinehouse morreu e, junto com ela, milhões, senão bilhões de pessoas morrem todos os dias em condições idênticas, sacomé?

Quero dizer, tudo bem, Janis, Jim e Jimmy (mas não o Joe C.) morreram jovens e eram uns fodidos drogados cheios da grana e famosos e foram criaturas legais e talentosas e eu amo todos eles por que eles fizeram a minha cabeça (entre outras coisas e pessoas e minhas próprias tendências comportamentais e mentais e etcétera que tais), mas não é por que eles eram talentosos e fodões que eles morreram, morreram por que não tinham auto-estima ou ninguém que pegasse eles pelas orelhas e botasse de castigo ou por que eram mesmo uns vacilões e nos deixaram sozinhos quando ainda tinham tanta coisa para realizar na música e no cenário jovem de sua época.

Que desperdício!

Assim como o da A.W.

Janis não acreditava que morreria jovem, nem muito menos ambicionava isto, foi um acidente.

Ela dizia que queria muito ver o que a nova molecada estaria fazendo no rock dali a 5 anos mas não deu tempo, sacou?

E isto foi um suicidio não programado, ela não queria morrer jovem e ter morrido logo não a faz mais legal nem menos vacilona do que todos os jovens ou velhos que perdem o controle das coisas e morrem em consequência da autodestruição.

Não sei por que há esta corrente que associa esses desperdícios de talento ao glamour de uma vida que simboliza, depois de finda, a rebeldia máxima, ou a atitude ideal ou uma forma de se destacar, sei lá.

Joe Coocker está aí, assim como alguns outros sobreviventes e ainda bem que nós podemos ver o que ele ainda é capaz de fazer e que legal, cara, seria se todos os 3 Jotas estivessem aqui ainda, não é?

Não há por que glamourizar a morte, nem idealizá-la como o único fim digno de quem é especial, há tantos outros não especiais que morrem ou se matam do mesmo jeito só que não são rock stars e ninguém dá a mínima!

Lembro do Chico Science morrendo num estúpido acidente de carro por que estava bêbado dirigindo a caminho de mais um show quando ainda estava no auge da revolução Mangue Bit que ele protagonizou junto com o Fred Zero Quatro (muito mais fraquinho do que o Chico) e agora aí está o Fred tirando onda e o Oto e o Nação Zumbi com Jorge Du Peixe, e Chico foi que se fodeu.

Desperdício, desperdício, desperdício...

Kurt Cobain, Renato Russo, Cazuza, Raul Seixas...

Cássia Eller, Elis Regina (mas não Ângela Ro Ro)...

O mundo da música estaria mais interessante com eles.

Só os melhores morrem jovens?

Que balela.

Acontece que as pessoas comuns que seguem caminhos idênticos aos dos caras aí de cima não vendem jornal nem dão audiência, exceto nos programas que pingam sangue da sua TV, onde passam a ser apenas uma estatística neste mundinho de merda.

Não é à toa que há um movimento de desvalorização da vida nesta turminha mais jovem, que a depressão e o transtorno bipolar estão na boca do povo, que o suicídio está aumentando entre esta galera e que o vazio da existência está se tornando uma regra e não uma excessão.

A ditadura da felicidade é encarada como coisa de otários e tristeza profunda está sendo associada à inteligência.

Cool é ser deprê.

Que saco imenso, para quem, como eu, sonhei com uma nova geração que aproveitaria tudo o que a minha conquistou e a antes de mim se fodeu para que a minha conquistasse!

Desperdício, é só a palavra que me vêm à mente.

E se hoje sou deprê eu também e há um vazio na minha existência ele é fruto do que ocorreu comigo e das minhas vivências e ver esta circunstância banalizada e glamourizada hoje é mais um fator que me deprime.

Não é que só quem tem mais de 40 é que tenha motivos ou direitos para estar doente, mas esta doença tem cura e é um distúrbio químico que desencandeia sintomas tratáveis e se todo mundo está doente, inclusive os mais jovens, que o mundo todo vá ao médico e não fique apregoando sua depressão sem nunca ter sido diagnosticada, pois considero isso um desrespeito e uma enorme falta de sensibilidade para com a dor alheia.

Estou deprimida?

Não vale ficar em casa chorando sem motivo sem nem sequer tentar tratar a doença.

Mas abe o que eu acho de verdade?

Que muitos dos que se dizem deprimidos recusam-se a ir ao médico por que sabem, no fundo, que não querem se curar, adoram estar assim, ou na melhor das hipóteses, sabem que não estão doentes, apenas não têm planos nem metas nem sentido algum nas suas vidinhas e rotulam de depressão como se fossem todos eles especialistas.

Bipolaridade e depressão e obsessão maníaco-compulsiva são distúrbios tratáveis e não estados d'alma que nos dá algum status estúpido de gênios intelectualóides incompreendidos pela sociedade, como queriam os românticos e os beatnicks e muitos carinhas que se vê por aí se vestindo de preto e com olhar cabisbaixo enquanto recebem a mesadinha do papai ou vão para o trabalho odiando o que fazem.

Quem nunca teve uma depressão profunda não sabe do que está falando.

E tenho dito.

Iama K
Enviado por Iama K em 01/08/2011
Código do texto: T3132187
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