AS SEM RAZÕES DO AMOR

Quando alguém sabe porque ama, então... não ama.

O Amor não tem razões...

(Ana Flor do Lácio)

As (sem) razões do Amor

Se perguntássemos as razões do amor a Drummond, ele certamente responderia com seu belo poema: . «Eu te amo porque te amo...»- sem razões... «Não precisas ser amante…».

Rubem Alves, em seu «Retorno e Terno» fez, certa ocasião, o seguinte comentário: «Os místicos e os apaixonados concordam em que o amor não tem razões.»

Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa: «A rosa não tem “porquês”. Ela floresce porque floresce».

Kierkegaard comentava o absurdo de se pedir aos amantes explicações para o seu amor. A esta pergunta eles só possuem uma resposta: o silêncio. Mas que se lhes peça simplesmente falar sobre o seu amor - sem explicar. E eles falarão por dias, sem parar...

«Que é que eu amo quando amo o meu Deus?» Assim perguntava Santo Agostinho, em busca de sabedoria, quando escreveu uma das mais belas e tocantes poesias que já li em toda minha vida e, em baixo, tenho o prazer de transcrever:

QUANDO AMO O MEU DEUS

A minha consciência, Senhor, não duvida,

antes tem a certeza de que Vos amo.

Feristes-me o coração com a Vossa palavra e amei-Vos.

O céu, a terra e tudo o que neles existe dizem-me,

por toda a parte,

que Vos ame e não cessam de o repetir a todos os homens,

para que não possam desculpar-se.

Mas mais profundamente,

usareis de misericórdia com quem quiserdes ser misericordioso

e tereis compaixão de quem vos quiserdes compadecer.

De outro modo, o céu e a terra só a surdos cantariam

os Vossos louvores.

Que amo eu quando Vos amo?

Não amo a formosura corporal, nem a glória temporal,

nem a claridade da luz, tão amiga destes meus olhos,

nem as doces melodias das canções populares,

nem o suave cheiro das flores,

dos perfumes ou dos aromas, nem o maná ou o mel,

nem os membros que acolhem os abraços da carne.

Nada disto amo quando amo o meu Deus.

E contudo, amo uma luz, uma voz, um perfume,

um alimento e um abraço quando amo o meu Deus,

luz, perfume e deleite do homem interior,

onde brilha para a minha alma,

uma luz que nenhum espaço contém,

onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata,

onde se aspira um perfume que o vento não dispersa,

onde se saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui,

onde se sente um abraço que a satisfação não desfaz.

Eis o que eu amo quando amo o meu Deus.

(autor: Santo Agostinho)

Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 02/04/2011
Reeditado em 02/04/2011
Código do texto: T2885683
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