SOBRE SILÊNCIOS
No silêncio preenchido pelas tuas palavras passadas
ouço teu adeus não dito.
Por que não partes logo e deixas que o meu silêncio seja prenhe de saudades?
O silêncio oco de sentido rapidamente torna-se cacofonia
nos meus ouvidos, cheios do sentido que tu davas às tuas palavras, antes que elas se calassem de sentido e soassem como palavras não-tuas.
Por que não te calas, então? Deixe que o meu silencio volte a ser meu, completo em si mesmo, cheio de mim e de minhas palavras, que pus entre as tuas para que se entrelaçassem e soassem em uníssono.
Vá e cale os sem-sentidos que deixas no ar sempre que não falas mais como se fosse tu quem fala.
Por que não partes logo e deixas que o meu silêncio seja prenhe de saudades?!
Não preencha mais os meus silêncios entre a espera-por e o ponto-final após tuas palavras que costumavam fazer sentido suficiente para preencher os meus silêncios, quando eles estavam vazios.
Meus silêncios eram sempre preenchidos, nunca quebrados.
Agora, meu silêncio foi quebrado, partido, estraçalhado e espalhado em ondas sonoras inaudíveis de sussurros teus e meus, que faziam sentido, mesmo inintelígiveis.
Por que não falas mais comigo naqueles silêncios e reticências que só nas tuas palavras faziam sentido e nas minhas gargalhadas encontravam eco?
Então, está bem, calo-me, selo meus lábios, engulo as palavras e os risos e as lágrimas.
Não te farei mais perguntas.
Não te implorarei para que quebres o teu silêncio sobre o meu.
Deixarei teu silêncio mudo e inteiro, sem lembranças minhas nem saudades de mim.
O meu... o meu silêncio?
Bem... o meu continuará chorando baixinho. Mas, como sempre, não te deixarei ouvir.