SOBRE CONCEITOS
Existem e não se prestam a interpretações. Interpretações são dadas sobre temas elásticos, subjetivos, gostos, preferências e posições sociais, políticas, religiosas, etc.
Um conceito é o que é. Pode ser reformulado, mas jamais individualmente. Cada reformulação de um conceito estabelecido numa sociedade deve passar de fenômeno social para fato social, senão, é estéril.
Não se pode reformular isoladamente um conceito estabelecido e esperar que os em redor o aceitem e corroborem. Pode-se reformulá-lo, divulgá-lo e defendê-lo via argumentação, desde que se compreenda que as ouras pessoas conhecem o conceito reformulado, na sua significação estabelecida.
Pois, quando se fala em Deus, por exemplo, todas as gentes terão imediatamente em mente o conceito reconhecido, e não o reformulado por alguns ou um só indivíduo.
Para os conceitos, há os dicionários. Ou, quando muito, o dinamismo social que os patenteia diante do uso consuetudinário.
Assim, o conceito de Deus, no Cristianismo (tanto quanto em todas as outras religiões), não é passível de reformulação, no que pesa em um debate. Como também o de alma, pecado, salvação, Diabo.
Para o debate, ao se defender um conceito que foi reformulado isoladamente, esta reformulação é infrutífera, pois não se pode debater um conceito que um indivíduo reformulou isoladamente; este conceito é dele, e a sua argumentação pode ou não ser válida, não importa. Importa, para o debate, a análise e as possíveis consequências que a ideia de um conceito aceito e reconhecido socialmente terão na sociedade, e não apenas na vida de uma pessoa, que o reformulou.
Cada religião tem os seus próprios conceitos e se um indivíduo segue uma delas, segue, por conseguinte, os seus conceitos.
Ou, paciência, criará a sua própria religião individual.
E, pelo bem da coerência, não deveria se afirmar seguidor de nenhuma das já instituídas.
Já pensou se cada um dos sete bilhões de seres humanos criarem um conceito prórpio de tudo o que já foi conceituado no mundo?
Os dicionaristas estariam falidos, ou enlouqueceriam. O debate seria infrutífero:
_Sou Cristão, mas no MEU conceito de Deus, Ele é só amor!
Ou:
_Discordo. Deus é tudo o que há no mundo!
Ou ainda:
_Deus é uma força que move o Universo!
Caramba... Tudo bem, tudo bem, escolha as qualidades do seu Deus, pinte-o com as cores que quiser. Mas este será o SEU Deus. Não o Deus cristão.
Qualquer conceituação individual que difira do significado estabelecido na sociedade onde o indivíduo atua é uma opinião pessoal, uma nova visão única, ou distorção, uma intransigência, uma digressão que não se presta ao debate. É uma questão de fé. E um obstáculo ao diálogo.
Não há como refutar uma opinião (apenas pode-se discordar dela), mas há como se refutar a interpretação individual de um conceito conhecido, determinado e legitimado pela sociedade em que se está inserido.
Ou, então, melhor é não chegar nem perto do debate e deixar que o conceituador continue reformulando os conceitos ao seu bel-prazer, sozinho, na sua linguagem única, pessoal e com a qual ele viverá feliz para sempre.