EXÉQUIAS ILUSTRES
Ontem foi sepultado com honras militares, no Cemitério do Morumbi, São Paulo, o corpo do ex-Governador do Estado Orestes Quércia, falecido aos 72 anos de idade.
Talvez este não seja o momento mais paropriado ou politicamente correto para lembrar alguns dos seus feitos. Lembro, contudo, que durante o exercício do seu mandato de Governador - também foi Prefeito de Campinas, Deputado Estadual e Senador -, enviou a tropa de choque da Polícia Militar para dialogar com uma turbamulta de professores em greve que pretendia chegar ao Palácio de Governo. Estes mestres-escola não queriam entender que o Governador tem mais coisas a fazer do conversar com recalcitrantes educadores. O resultado foi o esperado: vários manifestantes contundidos sem maior gravidade, que a ordem era a de não ferir a imagem do governo democrático.
Outra lembrança vem da televisão. Tratava da qualidade da merenda escolar fornecida gratuitamente (como se os cidadãos não pagassem impostos) nas escolas estaduais. Nela apareciam crianças sorridentes consumindo sofregamente pratos de arroz, feijão, salada e carne, tendo à sua frente potes de sobremesa em amplos refeitórios iluminados e resplandecentes. Testemunhas silenciadas pelo mesquinho interesse de não perder o emprego, confidenciavam a boca pequena que na verdade a refeição consistia em latas de pó solidificado que devia ser dissolvido em grande panelas e servido como caldo de gosto duvidoso.
Também relembro de certa campanha de vacinação sem vacinas nos postos de saúde mais que ia de vento em popa na propaganda oficial.
Minha última lembrança trata da magna tarefa que teve o Governador para mandar cobrir de terra uma estrada do interior do Estado que ele havia autorizado asfaltar sem perceber que a dita estrada levava a uma fazenda do seu genitor. Trapalhada compreensível em autoridade e obra de tal magnitude.
O sucesso como empresário em diversos ramos é um departamento demasiado complexo para ser tratado neste necrológio.
Imagino que assim que sejam retomados os árduos trabalhos nas câmaras municipais, estaduais e federais, deverão ser tramitados numerosos projetos visando rebatizar ruas, avenidas, logradouros públicos e - por que não? - escolas, com o nome do ilustre político, novo morador, por assim dizer, do Panteão dos Próceres. Bem merecidos benefícios da Democracia Compulsória.
Como dissemos, talvez não seja este o momento mais apropriado para lembrar tais deslizes comuns na vida pública; assim, fazendo vista grossa, juntamos as nossa condolências às da Nação enlutada pelo desaparecimento do Grande Homem.