QUEIMANDO O FILME
Guilherme Sakuma se apresentou a mim de uma forma surpreendente, desde então jamais deixou de me surpreender: Seu cartão de visitas foi uma citação do Allen Ginsberg sobre os livros de Jack Kerouac, comentando no site Recanto das Letras um dos meus poemas, na maior cara-de-pau, assim: "Um verdadeiro diamante telepático!"
Que ousadia!!!
Pensei eu, fã incoteste de todos os beats, dos malditos e dos meninos do The Clash. E tive que ir conferir.
Dei de cara com seu texto "Se os carangueijos pudessem gritar" (hoje na geladeira, pois o autor o considerou mal escrito), em que revelava uma notável capacidade de expressar emoções sem parecer que desejava fazê-lo, levando-me a crer que as emoções simplesmente ficavam à mostra, à revelia do autor.
Li mais 2 textos dele no dia seguinte, 5 no outro dia e mais 8 no dia posterior e constatei: Eu estava viciada!
Nunca mais me curei.
Ainda me lembro da hilariedade cáustica e da tristeza gritante do seu "Doce Sarjeta"; da sensação de ansiedade angustiante ao ser fisgada pela narrativa libidinosa numa profundidade da dor explícita do seu "Rímel borrado"; e como esquecer a originalidade tremendamente despudorada e pura ao mesmo tempo, no seu poema "Bundinha Linda"?
Não sou crítica lietrária, mas sou leitora desde que aprendi a ler e, nos meus mais de trinta anos de aventuras e descobertas pela literatura nacional e internacional, desde os clássicos e formais aos filósofos e cientistas, desde os subterrâneos aos comerciais, e dos best sellers aos desconhecidos dos sites de escritores, nunca encontrei nenhum autor que escreva como Guilherme.
Por mais que o comparem ao Bukowski, depois ao Chandler e mesmo ao Kerouac à primeira leitura desavisada, que identifica uma remota semelhança estética esporádica, Guilherme escreve sobre o que nunca foi dito, de uma forma que ninguém jamais disse.
Por que só ele poderia escrevê-lo e fazê-lo como o faz, uma vez que escreve o que vive, metatafórica e literalmente.
Guilherme Sakuma é o que escreve e torna-se, por isso, universal ao escrever, provocando estranheza e familiaridade em quem o lê ao perceberem-se tão desnudados em seus textos, que teimam em cuspir na hipocrisia geral contemporânea.
E isto é muito mais do que se pode dizer da maioria dos mais recentes campeões de vendagens, que abarrotam de burrice, tédio e vacuidade os porões das nossas editoras.