A relação entre escritor e leitor
O leitor é um viciado por textos, mas não por palavras...
Ele procura no escritor o preenchimento da sua alma, pois a vida já não lhe pertence.
Por várias vezes senti-me leitor e escritor num só pedal, e isso me perturbou, pensei seriamente em desistir de um deles... Contudo, não cheguei a um consenso sobre qual deles devo me livrar...
Amar o escritor não é fácil, é preferível amar os seus textos...
Quando escrevo, sinto que por muito bom ou mau que eu seja, terei sempre leitores, o que é um autêntico aborrecimento, pois nunca saberei o real motivo de ser lido...
Metade do que escrevo não passa para o leitor, poucos são aqueles que conseguem personificar o escritor, ainda assim, acredito naquele que me tenta ler, não o que me lê por ler.
O escritor e o leitor serão sempre duas cabras num pasto verde, ora um come ora o outro dorme...
Hoje, quando decidi relatar a chegada de minha mãe ao aeroporto senti-me um verme em casa de um leitor leigo...
Apesar de tudo, o leitor é uma criatura cinzenta, que afirma insistentemente saber da vida dos outros quando lê um livro autobiográfico, ele não sabe de nada, ele apenas afirma ter lido, mas nunca leu...
Já o escritor não é santo, santo é aquele que tenta a todo o custo colocá-lo num pedestal dourado.
Há certos dias que me viro para mim, e me pergunto: o que eu levo deste artifício ao escrever uma série de acontecimentos do meu cotidiano? Passados míseros segundos obtenho a resposta (...); sim, ganho três pontos na classificação geral de doidos.