Rosas prá você

João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908, na cidade de Cordisburgo, Minas Gerais. Fez o ensino médio e o curso de medicina em Belo Horizonte. Atuou nas cidades interioranas do Estado de Minas Gerais, interessado pelo mundo natural, quer dizer, fauna e flora, tanto quanto pelos sertanejos e pela investigação acerca da língua de cada localidade por onde andejava. Também estudou o russo e o alemão. Sua carreira diplomática teve início no ano de 1934 e, servindo no Ministério do Exterior, atuou em países como Alemanha (no período da II Guerra Mundial), na Colômbia e na França. Em 1956, ele escreveu “Grande sertão: veredas”, do qual extraio algumas frases (verdadeiras "rosas") a seguir. Rosa tomou posse na Academia Brasileira de Letras no dia 16 de novembro de 1967. Três dias depois, em 19 de novembro, veio a morrer, na cidade do Rio de Janeiro.

"[E]u careço de que o bom seja bom e o rúim ruím, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero os todos pastos demarcados... Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado..." (ROSA, 1988, p. 191-192).

"[U]m amigo... é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é" (ROSA, 1988, p. 155).

"[U]m rio é sempre sem antiguidade" (ROSA, 1988, p. 125).

"A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto, já está empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de lá de tantos assombros... Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia" (ROSA, 1988, p. 52).

"Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar - é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. (...) Deus existe mesmo quando não há. (...) Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo" (ROSA, 1988, p. 48).

"Consegui o pensar direito: penso como um rio tanto anda: que as árvores das beiradas mal nem vejo... Quem me entende? O que eu queira. Os fatos passados obedecem à gente; os em vir, também. Só o poder do presente é que é furiável? Não. Esse obedece igual - e é o que é" (ROSA, 1988, p. 301).

"Natureza da gente não cabe em nenhuma certeza" (ROSA, 1988, p. 367).

"O senhor não pode estabelecer em sua idéia a minha tristeza quinhoã. Até os pássaros, consoante os lugares, vão sendo muito diferentes. Ou são os tempos, travessia da gente?" (ROSA, 1988, p. 353).

"Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num cômpito. Eu penso é assim, na paridade... Um sentir é o do sentente, mas outro é o do sentidor. O que eu quero, é na palma da minha mão" (ROSA, 1988, p. 373).

Referência

ROSA, J. G. 'Grande sertão: veredas’. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.