CONVERSAS COM GOSTA DE ESCREVER - FINAL - C.D.A.

Prezados Recantistas, encerro essa série , com uma homenagem a todos que por aqui transitam. Especialmente aos que permanecem.

PROCURA DA POESIA

Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Estão paralisados, mas não há desespero,

há calma e frescura na superfície intata.

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.

Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

Espere que cada um se realize e consume

com seu poder de palavra

E seu poder de silêncio.

Não forces o poema a desprender-se do limbo.

Não colhas no chão o poema que se perdeu.

Não adules o poema. Aceita-o

como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada

no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma tem mil faces secretas

sob a face neutra

e te pergunta, sem interesse pela resposta,

pobre ou terrível que lhe deres:

Trouxeste a chave?

Repara:

ermas de melodia e conceito

elas se refugiam na noite, as palavras.

Ainda úmidas e impregnadas de sono,

rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

(Carlos Drummond de Andrade)

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In: Escrever Sem Doer - Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 27/09/2009
Código do texto: T1834175
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