CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
“Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.
Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. O dedo sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir à marginalia, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.”
(Carlos Drummond de Andrade, Para Gostar de Ler)
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“Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou. Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?”
(Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia)
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In: Escrever Sem Doer - Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.