Não, não foi o meu. Porém, tentei. sorriso
O conto abaixo foi o meu primeiro enviado a um concurso literário. Jamais nenhum outro me chamou tanta atenção quanto este proposto pela revista Piauí, desde 2000 quando entrei nesta trajetória literária, com o lançamento do meu primeiro livro, Pensando em ti.

Ah! Por falar nele há uma editora interessada em fazer uma nova edição do mesmo. Se assim for conseguirei atender a inúmeros pedidos da edição esgotada (será que poemas que libertam a libido fazem tanto sucesso assim?!). É o que tudo indica!Sorriso.
 
Voltando...como experiência, posso assegurar que, foi uma ótima experiência ter participado do concurso!
Não tenho dados do número de textos recebidos pela revista. O importante é ter participado e que, houve um vencedor.
O que foi proposto aos concorrentes? Admirar a bela figura de Al Parker e criar.
 
Parabéns à revista Piauí e ao vencedor do concurso.
 
 
 
 
Sonho, desejo e prazer! – Cármen Neves.
 
Na noite anterior ao baile sonhei que realizava meus desejos mais secretos. E foi envolvida pela magia do sonho que, me produzi igualmente como estava nele: cabelos soltos, lábios e unhas na cor carmim e um sensual e elegante vestido tomara-que-caia cobrindo meu corpo! Só não entendia o cheiro forte de cigarro que impregnava minhas narinas ao acordar. Mesmo assim, passei o dia inteiro seduzida pelo sonho...
Antes de sair passei Chanel no pescoço e nos pulsos.
Entrei no baile abraçada ao meu irmão, todavia, senti-me insegura como se a qualquer hora alguém viesse me roubar.
Os primeiros acordes românticos foram tocados pela orquestra, neste instante vi um homem de olhar penetrante vindo na minha direção. Gelei quando estendeu as mãos e me convidou para dançar.
- Não sei dançar – respondi com voz trêmula.
- Não importa, vem!
Olhei para meu irmão como quem pede socorro. Mas, ele fez sinal de afirmativa com a cabeça. Gelei novamente quando senti suas mãos em torno da minha cintura, conduzindo-me até o meio do salão. Olhou-me nos olhos. Apertou-me contra seu corpo. Cheirou meu pescoço e sussurrou ao meu ouvido:
- Gosto do teu perfume!
Não disse nada. Respirei fundo e tentei controlar meu corpo que, tremia como se eu estivesse congelando de frio. Óbvio que ele percebeu minha aflição. Parecia estar gostando diante do tímido sorriso que deixou escapar.
E foi ainda mais ousado:
- Quero saber qual é a tua fantasia sexual?
- És louco! Não confessarei a um estranho algo tão íntimo.
Tentei fugir, mas, segurou meu braço com muita força.
- Não a soltarei até que me digas qual é – sua voz era autoritária.
Um misto de medo e de sedução fez com as palavras saíssem de minha boca sem eu mesma acreditar.
- Na verdade sonhei com ela esta noite. Fiz uma breve pausa e as palavras foram saindo naturalmente. Imagino-me obedecendo a ordens. Imagino-me deitada ao chão aos pés de um homem, de preferência que esteja de terno e sapatos pretos. Imagino-me realizando todas as ordens dadas por ele...
Não pude fugir, estava hipnotizada pelo seu olhar. Só me dei conta de onde estava ao escutar o barulho de porta fechando. Sai do transe.
Estávamos num luxuoso quarto de hotel.
- Não, não me olhe nos olhos - disse-me com voz de comando.
- Ajoelhe-se diante dos meus pés - Foi sua segunda ordem.
Obedeci de pronto, sentindo uma excitação jamais sentida.
- Boa menina! Agora deite ao chão com os olhos fixos ao teto.
Assim eu fiz, enquanto se afastava. Senti um forte cheiro de cigarro, era o mesmo sentido no meu sonho.
Quando se abaixou, pensei que o momento seguinte seria voltado às delícias do sexo. Mas, me surpreendeu colocando ao meu lado um cinzeiro cheio de cigarros apagados.
- Quem mandou cruzar os braços, escondendo os seios?
- Pensei que me possuirias. Fiquei com medo. Foi um ato involuntário. Perdoa-me!
- És para ter medo mesmo.
- E quem foi que te disse que eu quero possuí-la? Sexo é bom! Porém, há outras formas de prazer como, por exemplo, tuas fantasias.
- Feche os olhos - Foi à ordem seguinte.
De olhos fechados comecei a sentir aquelas mãos másculas no meu corpo inteiro...Gemi de prazer!
 
 
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 Notas da Piauí:
 
1-    “Não foi apenas com desassombro que João Gabriel da Silva Ascenso enfrentou o desafio brutal de urdir uma historieta memorável a partir da ilustração ao lado, selecionada, diga-se, com bom gosto exemplar, pelo corpo de eruditos sustentados por piauí. Não. João Gabriel da Silva Ascenso também pôs em campo o talento que o Senhor, na Sua infinita munificência, lhe concedeu. A evidência não mente: estamos diante de um fenômeno maior. Não espantará se, ano que vem, esta feira literária dedicar mais de um colóquio à sua obra, que até lá, espera-
se, já será mais extensa do que a de Josué Montello.*”
 
 
O conto vencedor - CLARICE NÃO QUERIA_JOÃO GABRIEL DA SILVA ASCENSO_Rio de Janeiro/RJ

“Clarice não queria ser famosa. Clarice não queria carros, brilhantes ou vestidos de alta-costura. Clarice não queria cachorros de raça tomando conta do jardim com fonte e esculturas de estilo neoclássico e, sobretudo, Clarice não queria Ricardo.
    Ricardo era uma espécie de homem à moda antiga, gentil e discreto. Trabalhava geralmente de tarde, jantava por volta das 20 horas, não fumava mais de meio maço por dia e não dormia sem um cálice de licor. Ricardo não bebia nada alcoólico além de licor. Ricardo não gostava de charutos. Ricardo não ria, a não ser em raras ocasiões, e não falava além do necessário. Ricardo não amava Clarice.
    Clarice vivia de sua imagem. Vivia dos vestidos e brilhantes que ostentava sem orgulho. Vivia das colunas sociais e dos sorrisos marcados pelo batom carmim. Vivia do delicado lápis preto em torno do olho. Vivia por viver. Clarice não vivia.
    Ricardo oferecia jantares em que Clarice sempre estava: carmim, lápis, vestido e brilhantes. Nos jantares, Clarice ria elegantemente - nem alto demais, o que seria indelicado, nem baixo demais, o que demonstraria timidez -; comia pouco, bebia não mais que alguns goles. Nos jantares, Clarice não fumava.
    Clarice não queria viajar com Ricardo. Clarice não queria andar de avião, fazer malas, comprar roupas. Clarice não queria ter que voltar e jantar e sorrir, e viajar de novo, fazer malas, pegar táxis. Ricardo corria as cidades em busca das melhores oportunidades e quase não olhava os lugares por onde passava. Clarice nem lembrava que passava por aqueles lugares.
    Clarice sabia que Ricardo sabia. Ricardo nunca disse que sabia. Clarice sentou-se no chão do quarto, apagou o cigarro. Deitou-se, enfim. Queria chorar, mas não chorou. Ricardo entrou. Clarice olhou Ricardo. Ricardo queria passar, Clarice deu passagem. No dia seguinte haveria festa, mais licor e mais brilhantes. Seria o dia mais importante do ano, o dia mais aguardado por todos. Ricardo queria que tudo fosse perfeito. Clarice levantou-se do chão, tirou o lápis preto, o vestido, o batom.
    Clarice não queria.”


 2 -  “* A bem da verdade, esta introdução foi escrita antes de escolhermos o vencedor. Por questões de prazo, deixamos em aberto apenas o nome do escriba. Diante do resultado, precisamos confessar: assim como Clarice, também não sabemos direito por quepremiamos essetexto. Talvez por estarmos perplexos. Não se fala de outra coisa por aqui. Por todas as opalas de Teresina, que diabos Clarice sabia que Ricardo sabia mas Ricardo nunca disse que sabia? Precisamos saber. Quanto a Clarice, vão aqui algumas sugestões: divórcio, Lexotan, Frontal, Vicodin, Wellbutrin e, se nada disso der certo, eletrochoque. Ou um chacoalhão muito bem dado. ”



Cármen Neves.
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" Se você julga as pessoas, não tem tempo para amá-las"
( Madre Teresa de Calcutá - 1910-1997)
 

Cármen Neves
Enviado por Cármen Neves em 01/07/2009
Reeditado em 01/07/2009
Código do texto: T1677153
Classificação de conteúdo: seguro
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