Esta semana, estava aqui em casa trabalhando, tranquilinha, quando, de repente, um horripilante grito ecoa, seguido de choro de uma mulher...
Ela chorava compulsivamente e em tom muito alto... Desespero profundo! Isso durou quase meia hora!
Aquilo me deu um susto e a primeira reação foi ir até a janela mais próxima ver se descobria de onde havia partido...
Essa mesma reação foi sentida por outras pessoas que fizeram o mesmo.
Nada se avistava e muito menos, conseguimos identificar nada...
Depois, o silêncio...Um profundo silêncio...
A essas alturas, já com os joelhos bambas do susto e com um grande aperto no peito fiquei pensando no caso.
Vivemos aqui nessa quadra, cercados de casas e prédios, onde, obviamente existem muitas e muitas famílias e pessoas.
A distância que nos separa é muito pouca e no entanto, somos impotentes para oferecer qualquer ajuda, nem um ombro numa hora dessas.
As cidades grandes estão tão impessoais, frias, que parece ficamos indiferentes ao sofrimento alheio.
Não nos interessamos mais em saber como um vizinho está, o que ocorreu e muito menos, pela grande distância, não física, mas aquela emocional, somos incapazes de identificar as vozes, o que facilitaria a ajuda.
Assim, estamos ocupando os mesmos espaços, muitas vezes o mesmo elevador nos leva às nossas casas e no entanto toda essa frieza nas relações...
Lembrei então das cidades pequenas, onde todos ainda procuram ajudar-se mutuamente e ser solidários.
Que coisa, não?
O que o crescimento das cidades fez conosco?
Está nos tornando robôs?
Gente sem coração que pelo medo e em respeito à privacidade, deixa o outro ao seu lado ou bem próximo, sofrer e enfrentar o "mau tempo" sozinhos e desamparados.
Ainda hoje, passados quase três dias, ecoa em meus ouvidos, aquele terrível grito e no meu coração ainda dói a impossibilidade de algo fazer.(Chica)