A colheita
Um certo dia, um jovem monge pediu ao seu mestre que lhe ensina-se a aquisição de uma nova virtude. O velho sábio, ao ouvir atentamente o pedido de seu discípulo propôs a ele um desafio:
– Durante 12 meses, quero semeie três tipos variados de qualquer coisa que venha a sua mente , deixo isso a seu critério. Porém, escute com atenção as minhas instruções. Nos quatro primeiros meses, você irá plantar, cuidar, colher e me retornar se o objetivo foi cumprido ou não. Esse pensamento servirá de base para os dois conjuntos de meses restantes.
O jovem, feliz e ansioso para iniciar o desafio, dirigiu-se para o pátio do monastério para enfim começar o primeiro plantio. Escolheu cultivar uma roseira, para que nos meses em que a planta florescesse, o pequeno jardim pudesse se encher de cor e de brilho. Espalhou as sementes, regou, cuidou da terra, até que finalmente colheu o resultado de seu esforço. Entretanto, ao preparar as flores para presentear seu mestre, feriu seu dedo por conta dos espinhos da rosa. Então, de forma abrupta, largou-a e disse:
– Rosas não planto mais.
Logo após o acontecimento, dirigiu-se ao mestre para contar sobre a primeira parte do desafio:
– Senhor, completei hoje a minha primeira semeadura. Escolhi plantar uma linda roseira para enfeitar ainda mais o nosso templo. Gostaria de ter te dado um parte do resultado do meu árduo trabalho, porém me machuquei durante a retirada de uma rosa e desisti de trazê-la para ti.
O sábio atento às palavras do discípulo assentiu com as mãos e dispensou-o para a realização do restante do trabalho proposto. No seguinte quarteto de meses, pensou em plantar algumas hortaliças, visto que o inverno se aproximava e os resultados da colheita poderiam servir para seu sustento próprio, para seus irmãos e para seu mestre, e assim fez, semeando covas de abóboras, repolhos e nabos. De forma semelhante ao plantio das rosas, arou a terra e a preparou com adubos feito por ele para o recebimento das sementes no solo, regou e esperou que o cultivo brotasse no último mês do quarteto. Uma parte das verduras foi colhida, gerando enorme satisfação para as pessoas que cuidavam da alimentação no monastério, pois a atitude ajudou no abastecimento dos insumos para as refeições diárias. O jovem se alegrou com a notícia, e decidiu recolher o restante da plantação. Mas, ao chegar nos canteiros, deparou-se com um bando de coelhos que acabaram devorando tudo o que sobrara. A mesma decepção que sentira na colheita das rosas, sentiu novamente na colheita das hortaliças. Agora, com uma voz mais desmotivada, dirigiu-se ao mestre para lhe contar o resultado:
– Mestre, mais uma vez fiz o que me foi pedido. Semeei legumes e hortaliças para ajudar no sustento de nossos irmãos durante o inverno, feito que foi celebrado com muito regozijo de todos. Contudo, ao tentar coletar o restante que foi plantado, me deparei com roedores se apropriando deste. Mais uma vez me vi diante de uma situação desagradável no fim do resultado do desafio.
O mestre, de forma serena e com tamanha discrição, apenas sorriu e dispensou mais uma vez o discípulo para que completasse a façanha imposta e finalmente ganhasse a recompensa.
O jovem, com um sentimento de tristeza e abatido pelos resultados anteriores, imaginou semear sonhos, algo que para ele não deveria resultar em nada negativo de novo. Com isso, aspirou ter grandes virtudes que lhe seriam dadas ao final do desafio, ter vários discípulos para compartilhar seus ensinamentos, meditar e jejuar durante 12 horas por uma graça divina e etc.
No 12º mês, assim como havia proposto o mestre, este cobrou do aluno a concepção da última semeadura e os assuntos aprendidos durante o percurso. O jovem monge, cabisbaixo, respondeu em voz baixa:
– Mestre, desiludido por conta das situações que passei, nos quatro últimos meses decidi plantar sonhos. Fabulei pensamentos que estavam em meu alcance e que previ que poderiam acontecer, mais infelizmente foram em vão. Desculpe-me por não honrar com o compromisso que o senhor me deu, pois tu me confiaste essa tarefa e não a cumpri.
O mestre então levantou-se de onde estava, ergueu a face do aluno, lhe deu um forte abraço e comentou:
– Pensei em te dar apenas o caminho para alcançar a virtude da persistência, mas você se superou. Além disso, você colheu a empatia, o zelo, a solidariedade, a paciência e o amor. Mesmo com as adversidades no caminho, você não desistiu de completar o que lhe foi concebido. As rosas que você desprezou viraram lindos arranjos para o nosso templo. Os coelhos que se alimentaram do restante de sua plantação saciaram-se e terão estoque de gordura suficiente para se aquecerem durante a nevasca e não passarão frio. Hoje, tenho a honra de dizer que o futuro desse monastério está em boas mãos, pois meu curioso e antes imaturo aprendiz hoje se tornou mestre, pois me ensinou belíssimos aprendizados que nunca tinha visto na prática, mas apenas em meus alfarrábios.
Moral da história: Nunca pense que suas atitudes ou ações serão perdidas, ou que os problemas enfrentados no caminho possam diminuir o efeito positivo que a sua contribuição causou em algum ambiente ou em alguma situação. Orgulhe-se em ser uma pessoa proativa, em persistir e gerar gentileza no que faz, pois que semeia o bem, nunca colherá o mal.