Sátiro e Dalila. ( Reflexão sobre nossas escolhas)

No âmago de um jardim exuberante, onde flores resplandecem em um caleidoscópio de cores e as abelhas dançam ao redor das colmeias transbordantes de mel, há uma sinfonia de vida pulsante. O mel, ao tocar o chão, atrai um exército de formigas que, com um deleite quase ritualístico, transportam as gotas douradas, transformando a cena em um espetáculo de harmonia e interdependência. Nesse Éden, cada ser, jovem e vibrante, exala vitalidade, beleza e uma euforia contagiante, enquanto se embrenham na descoberta de um mundo novo e inexplorado.

Entre este balé de vida, habitavam duas abelhas de beleza inefável, Dalila e Maria, cujos corações e sonhos estavam entrelaçados pela amizade. Em meio a seus devaneios, um viril e incansável zangão, Sátiro, capturou suas atenções e desejos. Sátiro, dotado de uma presença arrebatadora, uniu-se a Maria, escolhendo-a como companheira pelos atributos que pressagiavam uma parceria frutífera. Contudo, nos recônditos espinhosos do jardim, ele cedia aos encantos de Dalila, uma abelha que vivia para o prazer fugaz, diferente de Maria, a esposa devotada.

Os dias viraram noites e o tempo desenhou a narrativa de Sátiro e Maria, que construíram uma colmeia próspera e um legado de filhos, cimentando laços com seus entes queridos. Paralelamente, Dalila, sem prole e morando na colmeia de seus pais, dedicava-se às aventuras, festas e ao oferecimento de seu néctar precioso a Sátiro. Porém, o desenrolar da vida trouxe a inexorável passagem do tempo. Dalila, agora envelhecida, viu seu mel perder a doçura e o encanto, tornando-se agridoce, incapaz de atrair nem mesmo as formigas.

Enquanto Sátiro e Maria floresciam em seu lar repleto de descendentes e memórias, Dalila sucumbia à tristeza e à amargura, consumida pela inveja. Sua essência, antes doce, transformou-se em um amargo pesar. A mãe natureza, em sua sabedoria, impediu Sátiro, agora diabético, de desfrutar do mel. Dalila, solitária, desprovida de lar, filhos e juventude, fitava um futuro envolto em neblina, onde o presente era seu único e amargo companheiro. O passado, um eco de ilusões perdidas, e o futuro, uma miragem distante, deixaram-na à deriva no presente desolador.

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 30/11/2024
Código do texto: T8208730
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