Fábula da lavandeira
Certa manhã, à beira do rio, uma andorinha pousou inquieta, convalescente e ensimesmada na frente da lavandeira, que realizava alegremente sua última lavagem de roupa. Aquela vinha esbravejando aos quatro cantos do mundo até encontrar-se naquele estado. Não foi através do barulho das águas que a lavandeira se fez entendê-la, a própria viajante alada, com muito esforço, deu-lhe o discernimento.
- "Uma andorinha só não faz verão"? Perguntou-lhe ofegante, achando que a amiga poderia ajudá-la.
- É o que todos dizem quando se sentem péssimos, não é verdade?
- Errado. Eu não me sinto bem trabalhando sozinha, no entanto, faço a minha parte porque a minha natureza me fez disposta a trabalhar durante todas as estações sabendo que só me realizaria quando fizesse verão.
- O que esperas de mim, D. Andorinha?
- Penso que a solidão também tem o seu lado bom. Pois veja bem, minha senhora, me mandaram periquitos e papagaios para ajudar no meu serviço...
- E daí?
- E daí que se formaram dois grandes grupos. O grupo dos papagaios comandava muito bem, tinha um ótimo discurso, era instigante por natureza. Os periquitos, por sua vez, cantarolavam como ninguém, seus feitos eram indispensáveis, além do mais, tranquilos e sociáveis.
- Por que estás tão abalada?
- Pobre de ti, senhora! Não percebes que a natureza foi falha, uma vez que nenhum deles conseguiu enxergar a importância do meu trabalho individual? Nem mesmo enxergaram o que, sozinha, pude oferecer. Eu nunca me senti tão só, estando em companhia alheia!
A lavandeira percebeu que a andorinha tinha muita roupa suja para lavar, mas preferia carregar o peso daquela trouxa sozinha em vez de aceitar ajuda. Por isso, resolveu dizer-lhe as palavras sábias do dia, mas de um jeito que, talvez, a outra compreendesse:
- A lavandeira é elogiada por lavar bem as suas roupas?
- É o que parece, já que te alegras com o teu trabalho.
- Errado. Lavandeiras não são elogiadas por lavarem bem as suas roupas, mas se deixarem qualquer mancha, por pequena que seja, apontam-lhe como defeito.
- O que esperas de mim, Dona Lavandeira?
- Seja boa naquilo que faz sem esperar elogios. Quando estiver ausente, sentirão a sua falta.
- E daí?
- O infinito é distante demais para que carregues o teu pesar; sacode essa sujeira e voa livre no infinito azul.
- Por que estás tão preocupada com minha vida?
- "Reconhece-te a ti mesma", pois a ingratidão nada importará, quando passares a pensar assim, passarinho!
A andorinha não disse mais uma palavra. Olhou para o infinito da consciência individual, para o âmago do reconhecimento de si e voou.
A lavandeira, vendo-a agora voar abertamente sobre aquele céu fulgurante, percebeu que no final tudo termina bem.
Moral: Sê bom naquilo que fazes, desprende-te da necessidade do elogio ou da inquietação do julgamento alheio. E "reconhece-te a ti mesmo".