O urubu e o Beija flor ( Fábula)
Em um canto isolado da floresta, vivia um urubu que, ao se olhar refletido em uma poça, percebeu como sua vida era feia e suja. Sempre em meio à carniça e à escuridão, ele suspirou tristemente e resolveu procurar o corvo, de quem já ouvira falar que conhecia bem os mistérios da vida.
Ao encontrá-lo empoleirado em um galho, o urubu contou sobre sua tristeza. Mas o corvo, com sua voz rouca, respondeu apenas:
— A vida é sombria, meu amigo. Tudo o que fazemos é sobreviver. Alegrias são para aqueles que voam com asas coloridas, não para aves como nós.
A resposta do corvo deixou o urubu ainda mais desolado. Tentando encontrar algum alento, ele seguiu adiante e avistou um asno pastando solitário. Acreditando que o asno poderia compreender suas dificuldades, o urubu se aproximou e começou a conversar.
— Por que parece tão triste? — perguntou o urubu.
O asno levantou a cabeça e resmungou:
— Triste? Sou um idiota, urubu! Carrego peso o dia inteiro e, no fim, todos só me veem como um animal teimoso e sem inteligência.
O urubu, vendo que ali também não encontraria consolo, sentiu o peso do mundo sobre suas penas negras. Sem esperança, voou para dentro da floresta. Lá, em um galho seco, encontrou uma coruja, cujos olhos brilhavam na escuridão.
— O que faz aqui, urubu? — perguntou a coruja, num tom amargo. — Não vê que esta floresta é apenas sombras? Vivo cercada por escuridão e silêncio. Essa é minha vida.
O urubu, mergulhado em melancolia, já não sabia onde buscar consolo. Ele alçou voo, voando sem rumo até que, exausto, pousou em um jardim. Aproximou-se de uma fonte e abaixou-se para beber água. Foi quando um beija-flor surgiu, zunindo alegremente de flor em flor. A felicidade iluminava aquela pequena ave colorida.
O beija-flor parou ao notar o urubu cabisbaixo e perguntou com curiosidade:
— O que o traz aqui, amigo? Por que está tão triste?
O urubu suspirou e, sem muita esperança, explicou sua tristeza, a feiura de sua vida e o vazio que sentia.
O beija-flor escutou atentamente, depois deu um gesto gentil e disse:
— Sabe, cada um de nós tem algo especial. Eu, por exemplo, adoro beber o néctar das flores, voar rápido e admirar as cores ao meu redor. Mas a vida é mais do que isso. Já olhou para o céu hoje?
O urubu levantou os olhos, curioso, e viu o céu de um azul vibrante, com pequenas nuvens esvoaçantes.
— Nunca tinha reparado — murmurou, impressionado. — É lindo…
O beija-flor pousou ao seu lado e disse:
— A vida não é feita só de feiura, amigo urubu. Saia da rotina. Você também faz parte desse mundo.