O MISTÉRIO DO TREM VAI E VEM

Todos da estação principal olhavam admirados para aquele enorme e barulhento trem vermelho que sempre chegava e logo partia. Esse trem que se aproximava chamava-se “Vai e Vem”. Ele era um trem especial, era feito para transportar animais.

Os trilhos foram construídos no meio da imensa floresta para poder embarcar todos os tipos de passageiros selvagens: dos tipos rabudos, dos tipos peludos e dos tipos bicudos.

O veloz Vai e Vem vermelho tinha vidros ao redor dele todo. Sendo assim, de longe podia se ver os passageiros que viajavam em seus três longos vagões. Até mesmo os escoteiros exploradores da floresta podiam sempre observar os bichos que estavam lá dentro e ficar imaginando como seria incrível viajar com toda a bicharada.

Certo dia, na estação principal, todos os animais selvagens formaram uma grande fila para embarcar no potente Vai e Vem. Eles compraram suas passagens e esperavam fazer mais uma boa viagem, porém esta seria totalmente diferente de todas as outras que já haviam feito, algo misterioso iria acontecer.

O maquinista do trem, o senhor Raimundo, foi chamado assim por ser um rato e ser imundo. Ele não gostava de tomar banho e acabava ficando muito sujo por causa da fumaça que saía do trem.

No dia dessa viagem misteriosa, o senhor Raimundo fez tudo como de costume: pegou seu alicate furador de passagens e se posicionou na frente da fila, separando os animais por tipo em cada vagão.

No primeiro vagão ficaram quatro animais do tipo rabudos: um esquilo, um macaco, um leão e uma raposa. No segundo vagão entraram quatro animais do tipo peludos: um urso pardo, uma capivara, um lobo e uma ovelha.

No terceiro e último vagão estavam mais quatro animais do tipo bicudos: uma arara, um papagaio, uma calopsita e um pombo.

Quando todos os animais chegaram em seus respectivos vagões, guardaram suas malas e se acomodaram confortavelmente em seus leitos, finalmente o Sr. Raimundo fez soar o "piuí" do apito do Vai e Vem e o trem começou a se deslocar, fazendo aquele barulho ritmado e único das rodas batendo cada vez mais rápido nos trilhos de ferro. Os que ficaram na estação principal puderam ouvir os sons do trem misturados com o canto das aves do último vagão. Era algo bonito de se ver e ouvir.

- Espero não enjoar dessa vez! Disse o esquilo Cirilo, abrindo sua caixa de nozes medicinais.

- Tendo vocês como companhia, quem vai enjoar sou eu! Replicou o enorme e metido leão Sebastião, que já estava nervoso com as brincadeiras perturbadoras do macaco Adalto, que trepava de um bagageiro para outro puxando o seu rabo e as suas orelhas.

- Você bem que merece, Sebastião! Retrucou, rindo, a raposa Mafilda, enquanto penteava o seu rabo peludo e se lembrava da vez em que quase foi caçada pelo leão Sebastião.

Enquanto isso, no segundo vagão, o vagão dos bichos peludos, a ovelha Gadelha olhava com bastante medo para o Lobo Pedroso. Ela pensava consigo mesma:

"Vou pedir para o maquinista, o Sr. Raimundo, para me trocar de vagão na hora de dormir. O vagão dos bicudos me parece bem mais seguro!"

Como se tivesse escutado os seus pensamentos, do nada, a capivara Iara disse:

- Amiga, que tal a gente ir dormir lá com os bicudos hoje a noite? Acho que lá vai ser mais divertido, sempre tem música e cantoria!

Com um sorriso expressando alívio e constrangimento Gadelha, a ovelha, respondeu:

- Claro, Iara! Vai ser até melhor assim porque daí poderemos conversar até mais tarde sem atrapalhar a hibernação do urso Hugo. Vamos juntas perguntar para os bicudos se eles topam e depois ir comunicar o Sr. Raimundo!

A viagem prosseguiu com o Vai e Vem cortando a densa floresta. Os animais conversavam, cantavam e até mesmo compartilhavam suas histórias mais íntimas. O papagaio Caio, no último vagão, era o responsável por animar a todos com suas imitações de outros pássaros.

Naquela mesma noite, quando a lua estava alta no céu, algo estranho aconteceu. A raposa Mafilda, que estava sentada perto da janela e olhava para as árvores escuras que passavam velozes, de repente, se levantou silenciosa e foi até o corredor. Os outros animais a observavam curiosos.

- Onde será que a Mafilda está indo? Cochichou o macaco Adalto para o esquilo Cirilo.

Mafilda desapareceu no corredor escuro, e os minutos se arrastaram. O trem continuava seu ritmo constante, mas a raposa não voltava. O leão Sebastião, sempre desconfiado, sugeriu:

- Talvez ela tenha ido ao banheiro. Ou quem sabe está aprontando alguma travessura lá atrás. - Os animais concordaram, mas a preocupação pairava no ar. Gadelha, a ovelha, decidiu ir verificar. Ela caminhou pelo corredor, passando pelo vagão dos rabudos, dos peludos e chegando ao último vagão, o dos bicudos. Lá, encontrou a arara Mara e o papagaio Caio, ambos cantando animadamente.

- Vocês viram a Mafilda? Perguntou Gadelha.

Mara parou de cantar e olhou para ela com um bico curioso.

- Mafilda? Não a vi. Ela não estava com vocês?

Gadelha balançou a cabeça. - Ela sumiu! Precisamos encontrar a raposa.

Os animais começaram a procurar em todos os cantos do trem. O urso Hugo, ainda sonolento, saiu de sua hibernação e se juntou à busca, mas Mafilda não estava em lugar algum.

A notícia do desaparecimento da raposa se espalhou entre os passageiros. O urso Hugo, por ser o maior e mais forte, foi apontado como o primeiro culpado. Ele negou veementemente, mas os olhares acusadores o deixaram desconfortável.

- Eu estava dormindo o tempo todo! Rosnou Hugo.

- Não vi nada.

Gadelha, a ovelha, não estava convencida. Ela lembrava das histórias sobre ursos que devoravam raposas. O lobo Pedroso, por sua vez, parecia satisfeito com a situação. Ele sempre desconfiara de Mafilda e agora tinha uma razão para apontar o dedo.

O leão Sebastião também se tornou um forte suspeito. Todos sabiam que, no passado (há dois anos), ele havia tentado devorar a raposa Mafilda. Este fato havia acontecido no final de uma tarde de domingo, quando o leão Sebastião foi convidado para um almoço na floresta mas não ficou satisfeito com a quantidade de comida, acabou se embriagando e correndo atrás da Mafilda.

A calopsita Rita olhou para o leão Sebastião e disse, aos prantos:

- Aposto que foi você quem deu o sumiço na minha amiga Mafilda! - Muito nervoso com a acusação, o leão Sebastião prontamente se defendeu, deu um forte rugido chamando o maquinista rato, Sr. Raimundo.

O Sr. Raimundo chegou assustado e, ao saber de toda a confusão, descartou a hipótese de que o leão Sebastião seria o culpado. Ele provou que os dois estiveram juntos em sua cabine o tempo todo conversando pois eram velhos amigos de infância.

Ficou muito aflito e preocupado, o Sr. Raimundo. Ele não queria que o mistério do desaparecimento estragasse a reputação do Vai e Vem. Ele decidiu investigar discretamente.

O Sr. Raimundo vasculhou os vagões, examinando cada canto. Quando chegou ao último vagão, encontrou algo inesperado: uma trilha de pegadas de raposa que levava até a janela aberta. Ele olhou para fora, subiu no teto do trem e encontrou Mafilda, a raposa, deitada lá em cima do Vai e Vem, curtindo o vento, observando a lua e a sombria floresta.

- O que você está fazendo aí? - perguntou o maquinista.

Mafilda pulou de volta para dentro do vagão, com um sorriso travesso: - Eu só queria ver a floresta de perto e admirar a lua. Desculpe se causei preocupação.

O Sr. Raimundo riu:

- Você é uma raposa astuta, Mafilda. Mas da próxima vez, avise alguém antes de sair pela janela.

E assim, o mistério foi resolvido. Mafilda não havia desaparecido; ela apenas queria uma aventura noturna. Os olhares acusadores se transformaram em risadas aliviadas, e o Vai e Vem continuou sua viagem pela floresta, com todos os animais em segurança. A raposa Mafilda havia criado sua própria aventura, e o Vai e Vem seguiu seu caminho, levando consigo histórias e segredos compartilhados entre os passageiros.

E, como toda boa história, essa também tinha um final surpreendente: o verdadeiro vilão não era nenhum dos animais, mas sim a curiosidade que nos leva a imaginar e explorar o desconhecido.

Inspirada na obra O Jogo do Vai E Vem de Flávia Muniz!

Kassay Oliveira Barreto de Jesus
Enviado por Natália Xavier de Oliveira em 23/10/2024
Código do texto: T8180302
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.