O LAMENTO DOS PÁSSAROS

Era uma vez, às margens do vasto e misterioso rio Amazonas, uma palafita humilde onde vivia a família de Marie. Ela era a única filha entre três irmãos, mas sua natureza era bem diferente da deles. Enquanto seus irmãos se divertiam brincando com os peixes e admirando os pássaros que cantavam, Marie encontrava prazer em causar dor aos animais silvestres.

Todos os dias, armada com seu estilingue, ela saía pela floresta em busca de ninhos. O som dos passarinhos, que deveria ser doce e harmonioso, tornava-se um eco de desespero quando ela os atacava. Quebrava ovos, matava filhotes e ria ao ver os pássaros chamando por suas crias, sem saber que a dor que ela infligia era profunda e imensurável. Seus pais e irmãos tentaram admoestá-la, mas suas palavras pareciam ecoar em um vazio sem fim.

"Um dia, a mãe natureza te castigará", advertiu sua mãe, mas Marie apenas revirou os olhos, desdenhando dos conselhos. As noites eram marcadas pelo lamento dos pássaros, que cantavam em dor, um canto que ecoava pelo ar como um lamento coletivo.

Certa noite, após um ataque devastador a um ninho de anus, a floresta se silenciou. As mães-pássaro, em uma assembleia desesperada, decidiram que era hora de agir. Elas se reuniram sob a orientação da Mãe Natureza, que escutava suas súplicas. "Queremos justiça!", clamaram. A Mãe Natureza, com sua voz suave e firme, lembrou-lhes das regras do reino animal.

"Vingança não trará lição. Apenas o sofrimento perpetuará o ciclo", disse ela. "Podem feri-la, mas não matá-la."

As mães-pássaro, em sua indignação, concordaram, e uma estratégia começou a ser traçada. Ao amanhecer, Marie, como sempre, pegou seu estilingue e saiu em busca de novos alvos. Mas, ao se aproximar de um novo ninho, uma nuvem de pássaros de várias espécies apareceu, como um verdadeiro exército da natureza. Eles a cercaram e começaram a bicar seu corpo, gritando em uníssono: "Marie, filho dói! Marie, filho dói!"

A dor que ela infligia agora retornava a ela, em forma de bicos afiados que a feriam. Marie tentou se defender, mas a fúria dos pássaros era implacável. Ao ser empurrada até a porta de sua casa, ela sentiu uma onda de arrependimento, mas já era tarde demais. A lição que ela deveria ter aprendido antes agora se tornava uma realidade dolorosa.

Quando a nuvem de pássaros finalmente se dispersou, Marie estava em carne viva, com marcas profundas que a acompanhariam para sempre. Desde aquele dia, a história de Marie se espalhou pela floresta e além, tornando-se uma advertência para todos. A adolescência que antes era marcada pela crueldade agora carregava a cicatriz de uma lição dura, mas necessária: o respeito pela vida e a harmonia entre todos os seres.

Nunca mais a palafita à beira do rio Amazonas viu a mesma Marie. Ela aprendeu que a natureza, embora bela, possui suas próprias regras e que todo ato de maldade pode retornar, muito mais feroz do que se imagina. A dor que ela causou serviu para transformá-la, e a canção dos pássaros, agora, era um hino de esperança e renovação.