A História de Ailana
Era uma vez, em um pequeno vilarejo escondido entre montanhas, uma menina com tranças ruivas que cintilavam como o pôr do sol e olhos de um tom misterioso, entre o azul, o anil e o violeta. Suas franjas quase cobriam aqueles olhos enormes, como um véu de segredos que ela guardava em seu coração. Seu nome era Ailana, e ela não era como as outras crianças do vilarejo. Enquanto todos corriam pelos campos ou ajudavam suas famílias, Ailana passava horas olhando para o céu, perdida em seus pensamentos.
Os habitantes do vilarejo diziam que Ailana tinha um dom especial: ela construía castelos no ar. Mas não eram castelos de pedra e cimento — eram feitos de pura imaginação. As nuvens eram seu papel, e o vento, seu pincel. Lá em cima, entre as brumas, ela escrevia seus pensamentos com os dedos e criava histórias que ninguém mais conseguia ver. Quem olhasse para o céu nos dias em que Ailana se concentrava poderia jurar que via formas se desenhando entre as nuvens: torres flutuantes, pontes que atravessavam o horizonte, reinos inteiros suspensos no ar.
Na terra, ela não era menos extraordinária. Com um simples galho ou uma pedra, Ailana desenhava sonhos no chão, traçando labirintos, estrelas e jardins encantados que pareciam ganhar vida à medida que sua mão os tocava. Alguns diziam que as flores cresciam mais rápido onde ela desenhava, como se a própria natureza reconhecesse a magia de seus sonhos.
Certa vez, uma tempestade forte ameaçou destruir o vilarejo. Os ventos eram tão ferozes que ninguém conseguia ficar de pé, e as nuvens negras cobriam o céu como um manto de medo. Mas Ailana, com seus olhos brilhando mais intensamente do que nunca, saiu para a colina mais alta, onde sempre criava seus castelos. Com os braços abertos e o coração repleto de coragem, ela começou a desenhar algo novo entre as nuvens. As pessoas do vilarejo, espiando de suas janelas, viram uma cena mágica: as nuvens se reorganizaram em formas suaves, e uma luz serena começou a brilhar através da escuridão.
Quando a tempestade finalmente cessou, o céu estava claro como cristal, e um grande castelo de nuvens pairava sobre o vilarejo. Diziam que Ailana havia pedido ao vento e às nuvens que protegessem todos, e eles responderam. Desde aquele dia, Ailana passou a ser conhecida não apenas como a menina que desenhava sonhos, mas como a guardiã dos céus.
A lenda de Ailana se espalhou, e muitos viajantes vieram de terras distantes para ver os castelos que ela construía no ar e as figuras encantadoras que desenhava na terra. Mas para Ailana, aquilo era apenas a expressão de sua alma, da menina sonhadora que via beleza em tudo ao seu redor. Seu legado de esperança e imaginação viveu por gerações, enquanto seus castelos de nuvens continuavam a flutuar, lembrando a todos que os sonhos, quando desenhados com o coração, podem proteger e transformar o mundo.
Quando Ailana cresceu, seus castelos de ar começaram a ganhar alicerces mais profundos. Seus olhos, ainda brilhantes como o violeta do crepúsculo, descobriram outra luz, uma chama que não vinha das estrelas, mas de um olhar. Era o olhar de alguém que a via como ela realmente era – uma tecelã de sonhos, uma artista das nuvens. Ele era um viajante, com cabelos desgrenhados pelo vento e um sorriso que a aquecia nos dias frios.
Ailana, que sempre se sentiu à vontade entre o céu e a terra, agora sentia algo novo: uma âncora suave, um desejo de ficar. Seu coração, que antes vagava entre as brisas, agora se agitava ao simples som de seus passos. Ela, que construía castelos nas nuvens, começou a sonhar com um castelo onde eles dois pudessem habitar.
No entanto, o amor para Ailana não era algo simples. Assim como suas tranças ruivas se embaraçavam no vento, seus sentimentos também eram complexos. Havia uma doçura em cada encontro, mas também uma saudade nas despedidas, como se cada momento juntos fosse ao mesmo tempo eterno e fugaz.
Ela, que desenhava na terra seus sonhos, agora começava a desenhar os contornos de um futuro – mas ainda assim, mantinha-se fiel ao que sempre foi: uma sonhadora. Ela amou com toda a força de seus olhos cor de anil, mas nunca deixou de olhar para o horizonte, sabendo que, mesmo apaixonada, ainda pertencia ao vento, às estrelas e às nuvens.
E assim, Ailana viveu entre dois mundos: o do amor que a ancorava e o dos sonhos que a faziam voar.
Com Aurora.