A CORUJA E O ROUXINOL

 

     Era uma vez uma antiga floresta onde todas as criaturas viviam em harmonia, respeitando as leis da natureza e o silêncio da noite. Lá viviam dois pássaros com habilidades muito diferentes: a Coruja, conhecida por sua sabedoria e visão noturna, e o Rouxinol, célebre por seu canto encantador e melodioso, que alegrava a todos ao amanhecer.

     A Coruja, sendo a guardiã da noite, tinha a responsabilidade de manter a floresta em paz durante as horas escuras. Ela voava em silêncio, observando tudo com seus olhos penetrantes, e aconselhava os animais sobre os perigos que poderiam surgir no escuro.

     O Rouxinol, por sua vez, passava o dia cantando e alegrando os corações dos animais da floresta. Seu canto era tão belo que até as árvores pareciam dançar ao som de suas notas. Contudo, ao cair da noite, o Rouxinol guardava sua voz e adormecia, respeitando o reinado da Coruja.

     Um dia, o Rouxinol, convencido por alguns animais de que seu canto era a coisa mais bela da floresta, decidiu que deveria cantar também à noite. "Por que só a Coruja tem o privilégio de dominar a noite?" pensou ele. "Meu canto traria alegria e beleza às sombras."

     Assim, quando o sol se pôs e a floresta mergulhou na escuridão, o Rouxinol começou a cantar. Seu canto era realmente maravilhoso, mas não pertencia à noite. O som, antes doce, ecoava de forma estranha na escuridão, confundindo os animais que estavam habituados ao silêncio e à vigilância da Coruja.

     A Coruja, surpresa e preocupada, foi ao encontro do Rouxinol. "Por que estás a cantar na escuridão?" perguntou ela. "O teu canto é belo, mas perturba o equilíbrio da noite. Cada criatura tem seu papel, e o teu é alegrar o dia, enquanto o meu é guardar a noite."

     O Rouxinol, teimoso e convencido, respondeu: "Mas a beleza não deve ter limites! Se posso encantar o dia, por que não posso fazer o mesmo à noite?"

     A Coruja, com sua sabedoria, disse calmamente: "Cada um tem seu tempo e sua função. O dia precisa de luz e alegria, e o teu canto é como o sol. A noite, porém, precisa de silêncio e reflexão, para que os perigos possam ser vistos e evitados. Se perturbas a noite, os animais não poderão descansar, e eu não poderei protegê-los."

     O Rouxinol, percebendo a verdade nas palavras da Coruja, silenciou seu canto. Ele compreendeu que, embora seu dom fosse valioso, ele não poderia quebrar o equilíbrio natural da floresta. Desde então, o Rouxinol voltou a cantar apenas ao amanhecer, trazendo alegria ao dia, enquanto a Coruja continuava a vigiar a noite, mantendo a paz e a ordem.

 

Moral da Fábula: Cada um tem um papel no grande equilíbrio da vida, e a sabedoria está em respeitar os momentos e os limites de cada um.

 

Melgaço, Pará, Brasil, 17 de agosto de 2024.
Composto por Jaime Adilton Marques de Araújo
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