UM GATO E UM CACHORRO NAS RUAS
Numa tarde chuvosa, quando retornava a casa, ao passar à frente do Restaurante “Chalé da Praça XV”, ouvi um bate-papo que me chamou a atenção:
– O que fazes na rua?
– Nas chuvas de maio, os meus donos foram resgatados e eu fiquei para trás. Por dias, nadei. Uma manhã, perdi as forças e, ao acordar, estava num local cheio de gatos e cachorros. Certo que longe dali, teria uma vida melhor, fugi!
– Cara, te deste mal! A vida nas ruas é muito difícil! Há dias que não ganhamos nada para comer.
– É... Percebi que tem pessoas que nos jogam pedras, galhos e pedaços de madeiras.
– Eu me protejo embaixo de bancos, ou próximo a vasos de flores.
– Tu és pequenino! Eu? Patas e rabo ficam à vista e tem sempre um a pisar-me por maldade.
– Fui abandonado bebezinho. Como filho das ruas, não tive uma família que me desse carinho e amor.
– Eu fui muito amado! Até roupas a minha dona me botava! Eu latia esperançoso que entendesse que aquilo não me agradava, mas ela achava que eu estava feliz.
– No restaurante, tem uma moça que, sempre que possível, além de me dar comida, faz afagos na minha cabeça e na lombada, momento em que me sinto feliz.
– Amigo, não somos os únicos vivenciando esse tipo de situação. Olhe a nossa volta!
– É... Há muitas crianças e famílias nas ruas. Esses estarão aqui por opção ou alguém os colocou?
– A quem realmente atribuir esse abandono? Não pensas em voltar ao abrigo?
– Não! Agora que nos tornamos amigos, formamos uma família. Minha Dona dizia:
“Preserve aquele que te proporcionou bons momentos, seja com pequenos gestos, seja grandes ações!”
– Dá um abraço para selarmos a nossa amizade!
Emocionada, enquanto seguia o meu caminho, lembrei-me da crônica de Marina Colasanti “De quem são os Meninos de Rua?”.