Sobre Passarinhos e Passarinhas

Era uma vez, um passarinho todo branquinho, de nome Noivinha! Noivinha? Parece que me enganei, não era um passarinho, era uma passarinha! Desculpa, eu vou começar novamente.

Era uma vez, uma passarinha, de nome Noivinha, toda branquinha, que voava alegremente sobre a mata verde. Era uma vez, uma passarinha, toda branquinha, de nome Noivinha, que voava alegremente sob o céu azul. Era uma vez, uma passarinha, de nome Noivinha, toda branquinha, que voava alegremente...

- O que é aquilo? - Perguntou-se.

A Noivinha avistou um passarinho preto. Ela tinha certeza de que nunca tinha visto um exemplar assim...

- PRETO!

Ela ficou impressionada com a beleza daquela ave, abriu bem os ouvidos para escutar o seu canto.

Olha o passarinho

Que bem que ele canta

Quando está cantando parece que tem

Uma viola da garganta.

Que música linda

Fácil de versar

Cante bem baixinho, mas devagarinho

Que eu também quero cantar.

Olha o passarinho

Que bem que ele canta

Quando está cantando parece que tem

Uma viola da garganta.

A passarinha sentiu uma vontade enorme de falar com aquele pássaro, mas não tinha certeza se deveria fazer isso. Achou melhor continuar voando, voando, voando…

Olha o passarinho

Que bem que ele canta

Quando está cantando parece que tem

Uma viola na garganta.

Aquela música não saia da sua cabeça, a impressão que ela tinha é que as árvores, o céu, o sol e toda a natureza diziam para ela falar com o cantor.

- Será? - Indagou-se.

Ela encheu-se de coragem e foi falar com o desconhecido.

- Olá! - Disse ela.

O passarinho preto ficou muito feliz em ver a Noivinha ali. Porém, ela ficou bastante espantada ao saber que ele já a conhecia e, segundo ele, todo mundo a conhecia, também. Mas, afinal quem era aquele pássaro preto?

- Eu sou o Anu! - Respondeu ele.

A Noivinha não poupou elogios ao canto do Anu. Contou que ela também gostava muito de cantar, mas não conhecia aquela música que ele acabara de entoar.

- Passarinhos gostam de cantar, esta música me foi ensinada por uns amigos lá de Portugal. Canta comigo?

E, cantando, a Noivinha não percebeu que a floresta se enchia de passarinhos e passarinhas admirados com o piar daquela dupla.

- Seu canto é absurdamente lindo. - Comentou o Anu.

A Noivinha agradeceu e, em retribuição, ensinou-lhe a sua dança. O Anu prontamente aceitou, ele também amava dançar. Eles dançaram assim:

A dança da Noivinha foi um anjo que inventou.

A dança da Noivinha foi um anjo que inventou.

O anjo foi-se embora e a Noivinha aqui ficou.

O Anjo foi-se embora e a Noivinha aqui ficou.

O Anu divertiu-se muito com aquela dança, mas como ele não era um pé de valsa, achou ela um pouco difícil de se aprender e também um tanto quanto cansativa.

Ainda ofegante, a Noivinha disse estar impressionada como um pássaro preto sabia tanta coisa assim, como um pássaro preto podia ser tão inteligente assim.

O Anu tinha entendido perfeitamente o que a Noivinha estava querendo dizer com pássaro preto, ele já estava acostumado com esse tipo de situação. Então, ele disfarçou e perguntou:

- O que tem a ver a nossa cor com a nossa inteligência, Noivinha?

A Noivinha ficou sem entender a pergunta do Anu. Será que ele não tinha percebido que ela era branca, branquinha. E ele era preto...

- Ah, você quer falar sobre cores? - Perguntou o Anu. Está bem, falemos sobre cores, então! Você sabia, minha amiga, que tecnicamente, preto e branco não são consideradas cores? Então, se o preto e o branco tecnicamente não são cores, eu e você tecnicamente não existimos.

O Anu não podia estar falando sério. Não existimos! - Pensou ela. Será que ele estava querendo deixá-la confusa?

Não, o Anu não estava querendo deixar a Noivinha confusa, mas ele ficou bastante ofendido com o comentário dela sobre sua cor. A Noivinha continuava sem entender por que o Anu se ofendera, afinal, ele era de fato preto.

- Olhe a nossa volta! - Continuou o Anu. Há passarinhos e passarinhas verdes, há passarinhas e passarinhos amarelos, passarinhos e passarinhas azuis, passarinhas e passarinhos vermelhos, passarinhos e passarinhas rosas... há passarinhos e passarinhas de todas as cores.

A Noivinha estava, sim, confusa e nervosa. O Anu tinha razão. À sua volta havia pássaros iguais a ela, apenas de cores diferentes. Ela sempre soube disso, mas pela primeira vez na vida ela estava percebendo isso.

- Que coisa mais linda!

O Anu lhe disse que os vermelhos são excelentes dançarinos, suas pernas se destacam na grama verde e assim eles podem executar as coreografias mais difíceis. Os amarelos são os que voam mais alto, por causa da sua cor, conseguem chegar pertinho do sol, que também é amarelo. E os verdes? Ah, esses são campeões na brincadeira de esconde-esconde, ninguém consegue achá-los na mata.

A Noivinha estava se sentido estranha. Como ela não percebera toda aquela diversidade antes?

- Não fique assim, Noivinha. - Disse o Anu. Não é a primeira vez que nós passamos por uma situação dessas. O importante é que você percebeu que nenhum de nós é melhor do que o outro por causa da sua cor. Você é linda! - Comentou ele. Mas eu também sou bem bonitão, você não acha?

Todos deram gargalhadas.

- Convencido! Disse ela.

A Noivinha entendera como a natureza é sábia, vários passarinhos reunidos ali, nenhum igual ao outro, mas todos passarinhos.

- Quer dançar comigo? - Convidou o Anu.

Sim, ela gostaria muito de dançar, não só com o Anu, mas com todos os pássaros da floresta, porém ela não sabia se já estava pronta pra isso.

Percebendo a timidez da amiga, o Anu convidou todos os pássaros para dançarem junto. Improvisando uma letra, eles dançaram assim:

A dança do Anu foi um anjinho que inventou.

A dança do Anu foi um anjinho que inventou.

O anjinho foi-se embora e o Anu aqui ficou.

O anjinho foi-se embora e o Anu aqui ficou.

E foi aquela festa na floresta. Os passarinhos ficaram a tarde toda cantando e dançando. A Noivinha era a mais animada com seus novos amigos vedes, amigos amarelos, amigos rosas, amigos pretos, amigos brancos. Os pássaros vermelhos ficaram impressionados, acerca de como a Noivinha dançava bem. E cantava como o rouxinol. Já se aproximava a noite quando um passarinho falou:

- Temos que nos recolher!

Todos os passarinhos acompanharam sua nova amiguinha até o seu ninho. Ao longe, a Noivinha ainda escutava os passarinhos cantando. Adormecida, ela cantava junto:

Olha a passarinha

Que bem que ela canta

Quando está cantando parece que tem

Uma viola da garganta.

F i m

Leonel dos Santos
Enviado por Leonel dos Santos em 30/06/2024
Reeditado em 30/06/2024
Código do texto: T8096815
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