Entre Fogo e Cinzas

 

Era uma casa linda, recém-construída, com paredes brancas e janelas amplas que deixavam a luz do sol entrar e iluminar cada canto. Assim era o início do relacionamento entre Marina e Leonardo. Tudo parecia perfeito, cada detalhe cuidadosamente planejado e cada momento compartilhado com entusiasmo e paixão. Eles decoraram essa casa com sonhos e promessas, enchendo os cômodos com risadas, conversas e planos para o futuro. A paixão inicial era como a pintura fresca nas paredes, vibrante e cheia de vida.

 

Com o tempo, essa casa se tornou um lar, e o amor que sentiam um pelo outro era o alicerce que sustentava tudo. Eles construíram juntos, tijolo por tijolo, um espaço onde podiam ser vulneráveis e autênticos. As noites eram preenchidas com conversas profundas, e os dias com gestos de carinho. A casa, assim como o relacionamento, parecia sólida e indestrutível. Os planos feitos em conjunto eram como móveis novos, escolhidos a dedo para se encaixarem perfeitamente no espaço que haviam criado.

 

Mas, como em qualquer casa, a rotina começou a se instalar. As cores das paredes começaram a desbotar, e as pequenas imperfeições, antes invisíveis, tornaram-se evidentes. A rotina enfadonha era como a poeira que se acumulava nos cantos, difícil de ignorar. As conversas tornaram-se repetitivas, e os gestos de carinho, automáticos. A casa, que antes era um refúgio, começou a parecer um lugar de passagem, sem a mesma magia de outrora.

 

Com o passar do tempo, a falta de manutenção começou a cobrar seu preço. Pequenas rachaduras apareceram nas paredes, e a fiação, antes robusta, começou a ressecar. Marina e Leonardo tentaram ignorar esses sinais, acreditando que o amor que sentiam seria suficiente para manter tudo em pé. Mas as rachaduras apenas aumentavam, e a fiação, agora frágil, tornava-se um risco iminente. A negação era como fechar os olhos para a decadência, esperando que, de alguma forma, tudo se resolvesse por si só.

 

As tentativas frustradas de prosseguir eram como remendos mal feitos na estrutura da casa. Eles tentaram consertar as rachaduras com palavras e promessas, mas a base já estava comprometida. Cada discussão era um fio desencapado, cada silêncio, uma lâmpada queimada. A casa, assim como o relacionamento, estava à beira de um colapso. Eles sabiam, no fundo, que algo precisava mudar, mas o medo do desconhecido os prendia naquele espaço deteriorado.

 

Então, um dia, a inevitável tragédia aconteceu. A fiação ressecada causou um curto-circuito, e um incêndio se alastrou rapidamente pela casa. As chamas eram como as palavras duras e os ressentimentos acumulados, destruindo tudo o que um dia foi lindo. Assistiram, impotentes, enquanto o fogo consumia cada cômodo, cada memória, cada promessa. O que restou foram apenas cinzas, um lembrete doloroso, do que um dia foi.

 

Após o incêndio, Marina e Leonardo se viram em meio aos escombros, sem saber para onde ir. Cada um seguiu seu caminho, carregando consigo as lições aprendidas e as cicatrizes do que viveram. A casa, agora em ruínas, era um símbolo do começo e fim de um relacionamento. O que um dia foi um lar cheio de vida e amor, agora era apenas um terreno vazio, esperando para ser reconstruído, talvez por outras mãos, em outro tempo.

 

Assim é o começo e o fim de um relacionamento. Como uma casa que, sem manutenção, se desfaz aos poucos, até que um incêndio destrói tudo, deixando apenas cinzas e memórias. Cada um segue seu caminho, levando consigo as lições e as marcas, do que um dia foi.

 

Ednaldo DaMata

Janeiro de 2003

 

Ednaldo DaMata
Enviado por Ednaldo DaMata em 21/05/2024
Reeditado em 12/06/2024
Código do texto: T8068366
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