A Árvore
Sou uma árvore que mora à beira de um regato. Sou frondosa e meus galhos são extensos, e muitas vidas dependem de mim. Tenho ninhos de diversas aves: pássaros cantores e aves de rapina são minhas amigas
. Alguns são moradores, outros apenas fazem visitas passageiras. Um corujão orelhudo é um inquilino tranquilo e muito sábio. Fala pouco e é apaixonado pela noite. Tem um carcará que pernoita nos galhos mais altos de minha copa. É uma ave valente; a passarada fica incomodada quando ele está por perto. Muitos insetos moram em meu tronco: formigas, borboletas, besouros e outros. Eles cuidam da minha saúde; alguns vivem na minha casca, outros se alimentam de minhas folhas e madeira. Os pássaros estão sempre de olho neles.
Ao cair da noite a chapada vai se acalmando e quando o silencio vem só se escuta o choromigo do ribeirão , ai eu escuto o cochichado dos morcegos frugívoros conversando com o corujão. São velhos amigos das noites do sertão; eles vêm se alimentar dos meus frutos, são meus parceiros indispensáveis e espalham minhas sementes por toda floresta, fazendo com que minha espécie chegue a outros locais mais distantes. Ao amanhecer, um coro de trinados de passarinhos dá bom dia ao chapadão e, de repente, um burburinho danado: são os saguis macaquinhos levados e cheios de traquinagens. Quando o sol vai esquentando, um antigo inquilino começa a mudar de cor: é o camaleão lagarto, paciente, sempre está na dele, tranquilão.
Grudadas nas lianas e bromélias que se enroscam em mim e se esticam e descem em direção ao riacho, nelas ficam grudadas pequenas rãs que moram no riachuelo que passa próximo às minhas raízes. Apesar de viver parada, muitas vidas dependem de mim. Vejo no horizonte nuvens negras e carregadas; em breve minha alma será saciada e minha vida renovada.