O JARDIM DA D. CARMEM – EPISÓDIO 8 (O JARDIM EM PERIGO)

Enquanto o jardim seguia seu dia a dia na calmaria, em algum lugar perto dali, no bosque, um grande conflito estava para acontecer. Um formigueiro das formigas legionárias estava prestes a serem sugadas por um Tamanduá Bandeira adulto. Ele estava a poucos metros, seu olfato era preciso. Um grupo de dez formigas sempre saíam para os arredores para identificar algum perigo iminente. E foi quando uma delas viu o animal sugando com sua língua enorme tudo que se mexia. Desesperadas foi correndo avisa as outras.

- Operárias, operárias, precisamos sair daqui imediatamente! – Falou toda ofegante uma das formigas vigilantes. – Levem-me para a rainha, ela precisa saber do perigo que nos cerca.

as legionárias, enfrentamos qualquer coisa. Basta dizer onde está o problema para que uma parte do exército possa ir exterminar o inimigo. – Todo cheio de autoridade, pressionou-a contra a parede.

- Pois saiba que o inimigo é um Tamanduá enorme que pelos meus cálculos deve estar bem mais próximo daqui desde a hora em que o localizei. Juro que precisamos sermos rápidos. – Gritou tão alto que todos que estavam trabalhando ao redor, ouviram, inclusive o comandante que ficou sem voz, totalmente paralisado.

A partir disso, o tumulto começou. Era tanta formiga correndo para cima e para baixo, sem saber para onde ir, que foi preciso chamar o guru para tranquilizá-los.

Após passado o susto, o comandante levou a operária vigilante para o gabinete da rainha.

- Com licença vossa alteza, desculpe-me o atrevimento, mas é que temos uma notícia um pouco desagradável para lhe comunicar. – Foi dizendo bem apressado, esperando a ordem dela para continuar. Apenas levantou a pata para ele continuar. – Um tamanduá Bandeira vem em nossa direção. Segundo uma das nossas vigilantes, está a poucos metros do formigueiro.

Depois de um leve suspiro, a rainha deu a ordem que faltava:

- Sabe-se que nós as Legionárias temos a fama de devorarmos tudo aquilo que cruzar o nosso caminho, mas somos inúteis contra um tamanduá. Viramos comida fácil se aquela língua dele nos alcançar. Mal chegamos e já temos que sair daqui. Coitadas das minhas operárias, nem descansaram direito da última viagem. – Pensativa, continuou. – Vamos partir imediatamente para o leste!

E assim seguiram para bem longe do tamanduá. Elas tinham uma fome sem fim. Quem estivesse no meio do caminho, viraria um banquete, com certeza. Um casal de escorpiões-amarelos estava acampado embaixo de umas folhas secas, quando de repente ouviram muitos passos. O macho subiu em uma copa de um galho para ver o que seria. Porém, quando ele olhou para baixo, a sua companheira estava do lado de fora das folhas, sem proteção nenhuma. Não deu tempo de avisá-la. O formigueiro avançou para cima dela devorando-a sem dó nem piedade.

- Não! Não! Malditas Formigas Legionárias! – O escorpião em sua dor subiu o mais rápido que pode para também não ser comido por elas. Ele pensou em castigo, pois não era um bom aracnídeo, poucos confiavam nele e a sua amada era uma delas. Precisava salvar a própria pele e de onde estava dava para ver o vilarejo e o jardim onde tempos atrás foi expulso por mal comportamento. O formigueiro estava indo para a quela direção. “Como poderia chegar antes delas?” pensou. E para sua sorte, uma cobra-cipó chegou junto. Ela estava de passagem, mas quando viu o escorpião, se armou toda para ele mostrando os dentes.

- Calma aí D. Cobra, estou em paz e aflito. – Falou para a cobra.

- Ah, não vem com essa não! Eu já conheço a sua lábia, seu falso. – Respondeu toda grosseira. – Só você mesmo para estar aflito. Não acredito!

- Perdi minha companheira agorinha para as Formigas Legionárias assassinas e preciso chegar um jardim a leste antes delas. Porém, não irei conseguir sem a sua ajuda. – Praticamente implorou.

- Minha ajuda? Aposto que você está armando alguma, seu mentiroso. Exclamou a cobra surpresa e espantada com a ousadia dele.

O escorpião não desistiu e por fim convenceu a D. Cobra-cipó a levá-lo com uma condição que fosse carregado entre os dentes dela para evitar ser traída e poder mastigá-lo caso ele ameaçasse picá-la com o seu ferrão. E assim seguiram por outro caminho para não encontrarem as formigas pela frente.

Na entrada do jardim, a D. cobra largou o escorpião-amarelo e seguiu seu caminho. Ele limpou a poeira se sacudindo todo. Um escaravelho que estava de guarda viu tudo de onde ficava a guarita. Resolveu impedir a passagem do intruso, pois já o conhecia de outras eras.

- Para onde pensas que vai? – Foi logo perguntando.

- Calma aí, venho em paz. Tenho que entrar. O jardim corre perigo. – Falou tentando furar o bloqueio do escaravelho. – Já disse chefia, é urgente. Deixe-me passar.

- Claro que não deixarei um mentiroso e trapaceiro passar por mim. Sei exatamente o tipo de caráter é o seu. Pode voltar, aqui não tem lugar para um tipinho como você. – Pegou-o pela cauda e saiu arrastando-o para longe.

- Depois quando as legionárias atacarem a todos do jardim, não diga que eu não avisei. – Argumentou todo debochado.

O escaravelho parou no mesmo instante: - O que você disse? – Apertou com toda sua força a cauda do escorpião para ver se ele estava mentindo ou falando a verdade.

- Aiiii, devagar, desse jeito vai torar minha cauda. – Gemeu desesperado. - É sério, elas estão vindo pra cá. Um formigueiro inteiro. Temos que impedi-las. Dessa vez estamos do mesmo lado.

O escaravelho avisou para os outros que também estavam de vigia. Pediu para o gafanhoto da equipe sobrevoar os arredores do jardim e ver quanto tempo ainda tinham para armarem uma armadilha. Pediu para D. Cigarra cantar o mais alto que pudesse para que todos comparecessem a reunião de urgência.

D. Aranha que estava tecendo, parou imediatamente e foi ver o estava acontecendo exatamente às nove horas da manhã. Os grupos de aracnídeos, insetos, roedores, mariposas, todos os outros já estavam se aglomerando em frente à sua casa no centro do jardim, querendo saber a mesma coisa, o estava acontecendo?

- Cama minha gente! Estou no mesmo nível de vocês. Também quero saber o que está acontecendo aqui. – Disse pedindo silencio com as patinhas.

Mais adiante um grupo esquisito aproximou-se da multidão. Quando viram quem eram afastaram-se abrindo caminho para o escaravelho e o escorpião passarem. Imediatamente o escaravelho empurrou o escorpião e ordenou que falasse tudo. Assim que ele explicou o motivo de todo o alvoroço para os demais animais do jardim, d. Aranha em toda sua sabedoria resolveu agir.

- Queridos habitantes do jardim, a situação é séria e a única forma de impedi-las de entrarem no jardim é desviando o caminho delas para bem longe daqui. – Pausou e observou os demais – Primeiramente convocarei todas as aranhas para juntas fazerem um abarricada de teias na parte leste para o caso de alguma formiga tentar entrar. Depois os passarinhos e algumas formigas com asas terão que encontrar alguns animais mortos e criarem trilhas no sentido oeste do jardim. Isso precisa ser feito agora. Imediatamente.

- Enquanto os demais habitantes majestade, farão o quê? – Perguntou a joaninha preocupada.

- Os demais entrarão em suas casas e aguardarão em silencio o resultado desta operação de emergência. – Por fim exclamou a rainha das aranhas.

Enquanto a 100 metros do Jardim da D. Carmem, um carreição de formigas se seguia rapidamente devorando o que estivesse no caminho em busca de um lugar seguro longe do temível tamanduá bandeira. A rainha delas ordenou que as espiãs fossem na frente para informá-la dos obstáculos. Uma delas voltou e disse:

- Existe mais adiante um imenso jardim florido, majestade. Creio que não será nada fácil entrarmos lá, acho que as formigas locais não deixarão.

- Pois, haverá guerra. – Exclamou para todos ouvirem. – Seguiremos para lá. E assim, as temíveis legionárias seguiram seu caminho destruidor. De repente elas começaram a notar vários restos de animais mortos pelo caminho. E isto as alegrou bastante, já que a fome delas era insaciável, foram aos poucos desviando e seguindo mais para o oeste. Nem perceberam que o Jardim ia ficando para trás. As aranhas que estavam tecendo teias enormes para servir de armadilhas, juntas com as formigas saúvas ficaram aliviadas e eufóricas por não terem que enfrentas as temíveis legionárias.

- Vamos avisar ao outros. – Falou a Andorinha para as aranhas e as formigas saúvas que estava na fronteira do Jardim. E assim seguiram em direção ao centro alguns aguardavam na expectativa.

- Queridos habitantes do jardim, fui avisada que o carreição debandou para o oeste e que nossas iscas serviram direitinho para atraí-las para longe daqui. – Falou com alegria a D. Aranha. – Podem sair de suas casas com tranquilidade, o pior já passou. Graças esperteza do Escorpião que conseguimos tomar uma atitude a tempo de impedirmos uma tragédia. Apesar da sua natureza duvidosa e traiçoeira, fez um imenso favor avisando-nos sobre as Legionárias.

Todos vibraram com a notícia. O escorpião ficou todo orgulhoso pelas palavras da rainha das aranhas. Mas, sabe que ali não é o seu lugar. Enquanto a aglomeração tornou-se uma festa onde a alegria se fez presente mais uma vez no Jardim da D. Carmem, ele foi afastando-se de fininho rumo ao seu destino: a caça.

Débora Oriente

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 02/01/2024
Reeditado em 16/01/2024
Código do texto: T7967511
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