AS TRANÇAS DO REI CARECA
Em um reino distante, onde as histórias pareciam tecidas pela própria magia do lugar, vivia um rei peculiarmente famoso. Sua fama não se devia a proezas em batalhas épicas ou a conquistas territoriais, mas sim a algo aparentemente simples: suas tranças. Tranças que, na verdade, existiam apenas na imaginação única do rei, pois somente ele as via.
As pessoas do reino, sabendo que o rei era temperamental e podia reagir de maneira severa, aprendiam a elogiar suas inexistentes tranças sempre que o avistavam. "Que belas, que belas tranças vosso rei tem," murmuravam, enquanto alisavam suas próprias cabeças em gesto de respeito e submissão. Era um espetáculo estranho, mas ninguém ousava questionar o monarca, temendo represálias.
O rei, por sua vez, vivia em um estado constante de alegria ao ouvir as palavras de admiração. Ele caminhava pelo reino, orgulhoso, e sua confiança crescia a cada elogio falso que recebia. O povo, por medo das consequências, alimentava essa ilusão, criando um ciclo de mentiras benevolentes.
A rotina do reino mudou quando um viajante misterioso chegou carregando consigo uma variedade de bugigangas intrigantes. Esse forasteiro observou as peculiaridades do rei e, com ousadia, expressou sua opinião: "Que rei louco!"
A notícia se espalhou rapidamente, e o murmúrio chegou aos ouvidos do rei. Curioso e um tanto ofendido, ele se aproximou da multidão para confrontar o viajante. A resposta do forasteiro desencadeou uma série de eventos que desafiaria as verdades construídas no reino.
O rei, firme em suas convicções, questionou o povo sobre suas tranças. Todos, por medo, confirmaram a ilusão. O viajante, por sua vez, alertou o rei sobre a fachada que mantinha o povo em silêncio, temendo a forca.
Refletindo sobre as palavras do viajante, o rei convocou uma assembleia e perguntou diretamente ao povo se o amavam. As respostas foram unânimes: "Sim!" Então, com humildade, o rei admitiu sua própria cegueira emocional.
Algumas semanas se passaram, e o rei, em um gesto surpreendente, chamou o viajante ao castelo. A população, temerosa pela vida do forasteiro, especulou sobre sua sentença de morte.
No castelo, o rei falou com sinceridade. Ao invés de condenar o viajante, agradeceu por abrir seus olhos. "Descobri que o povo me ama não por minhas tranças, mas porque, mesmo sem vê-las, estavam dispostos a mentir para me fazer feliz. Obrigado, viajante, por me libertar dessa ilusão."
O rei, agora mais sábio e verdadeiro consigo mesmo, passou a governar com uma humildade renovada, valorizando a lealdade genuína de seu povo. O reino floresceu em uma era de honestidade e aceitação, onde as verdadeiras qualidades do rei eram admiradas por todos.
PAULO PEREIRA