A fábula O Lobo e o Cordeiro, de La Fontaine, reescrita.
O lobo, animal voraz, há dias sem comer de uma tira de carne de um pequeno animal qualquer, e a sede a atormentá-lo, foi, a passos lentos, até um riacho de águas cristalinas, que deslizavam pelas pedras, e à margem dele curvou-se e pôs-se a beber da água, no princípio, sedento, depois, saciada a sede, calmo, satisfeito.
- Após dias e dias sem uma gota de água, satisfaço-me a sede - pensou consigo assim que se recompôs. - Agora, preciso de um alimento apetitoso, que me mate a fome. Que me apareça ou uma lebre, que irei da carne dela tirar o meu alimento. Mata-me a fome.
Ocupava-se o lobo com tais pensamentos quando surgiu, no horizonte, a silhueta de um cordeiro. Ao vislumbrá-la, lambeu os beiços, a prelibar de carne tão apetitosa.
- Vem ter a mim, inocente cordeiro - pensava lupinamente o lobo esfomeado. - Vem ter às minhas potentes garras. Vem ter aos meus dentes afiados, pequeno, inocente cordeiro. De tua carne tirarei o meu sustento. Ah! Fornido cordeiro. Vem. Bebe da água deste riacho. Ah! Cordeiro! Devoro-te! Bebe da água abaixo de mim, e te direi que tu sujas a água que me vem à boca: tu irás dizer que não me sujas a água; direi que tu me difamaste e me infamaste há um ano: tu dirás que nasceste há oito meses, e, portanto, não poderias ter-me vilipendiado; dir-te-ei que um irmão teu me envileceu: tu dirás que és filho único. Então, exibirei minhas garras, escancararei minha bocarra, avançarei contra ti, fincar-te-ei ao pescoço meu dentes cortantes, afiados. E devorar-te-ei, inocente cordeiro. Vem ter aos meus dentes afiados, inocente cordeiro, vem.
Assim pensava a criatura lupina, a fitar, lambendo os beiços, o inocente cordeiro, que dele aproximava-se desapercebidamente.
E aproximava-se do lobo o cordeiro.
E do lobo o cordeiro aproximava-se.
E o cordeiro aproximava-se do lobo.
E aproximava-se o cordeiro do lobo.
E distava do lobo uns dez metros, o cordeiro de sob a pelagem tirou um Colt 45 e conservou-o consigo, a segurá-lo firmemente.
O lobo, com movimentos sutis, à margem do rio curvou-se, bebeu de um pouco de água, recompôs-se, e foi-se embora, de fininho, com o rabo entre as pernas, como se não houvesse notado o cordeiro.
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Moral da história: A razão do mais forte só prevalece se o mais fraco vive no mundo dos unicórnios.