A lenda do Paroara (pássaro Cardeal)

Quando deuses habitavam as florestas brasileiras, há milhões de anos, o jovem Juraguaçu, bisneto de Tupã, era amigo do pequeno macaco Çaguí. Sua irmã, a linda menina Tangá, era amiga de Paroara, um lindo pássaro branco com quem ela conversava através da música.

Paroara nunca conseguia criar filhotes, porque cada vez que fazia seu ninho, Çaguí ia lá e comia os ovos, deixando Paroara e Tangá desolados. Um dia Tangá foi falar com o irmão e pediu a ele para proibir seu amigo Çaguí de comer os ovos de Paroara, mas Juraguaçu riu e respondeu que é da natureza os macacos comerem os ovos dos pássaros. Então Tangá disse que, se é da natureza de Çaguí comer os ovos de Paroara, agora é da natureza de Tangá flexar o Çaguí.

Quando o pássaro mais uma vez preparou o ninho, Tangá armou seu arco, fez uma flexa com a ponta bem afiada, e ficou de tocaia dia e noite, para defender os ovos do amigo. Quando Çaguí apareceu para comer os ovos, Tangá apontou a flexa para o macaco, mas Juraguaçu veio correndo e empurrou o ombro da irmã. A flexa perdeu o rumo, mas raspou no corpo do macaco e fez sangrar. Uma gota de sangue caiu sobre os ovos do ninho, e a menina não viu. Se tivesse visto, teria ido lá limpar os ovos, mas não viu. Quando os pequenos filhotes nasceram, as penas da cabeça e do peito ficaram da cor do sangue, e as penas das outras partes do corpo da ave se tornaram cinza escuro e cinza claro.

Por esse acontecido, os irmãos brigaram e Tangá foi morar no cerrado, levando consigo seu pássaro amigo e os filhotes. Desde então, o Paroara vive fora das florestas altas, longe dos Çaguis malvados, e faz seu ninho nos campos, na vegetação mais baixa.

Quando os portugueses vieram morar no Brasil, chamaram Paroara de Cardeal, porque tudo para homens brancos tinha a ver com sua religião católica, e a crista vermelha do lindo pássaro para eles lembrava a mitra dos cardeais.

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Vocabulário Tupi-Guarani (sujeito a correções)

Paroara = nome nativo do Cardeal (Paroaria coronata), ave da ordem passeriforme do gênero Paroaria, família Emberizidae. Sua principal característica é o topete eriçado de um vermelho intenso que invade também o peito, em ambos os sexos. As demais partes são acinzentadas, de tom mais escuro em cima, esbranquiçada na região ventral, os olhos são marrons escuros, as pernas são negras.

Tupã = progenitor; mensageiro de Nhanderu (Deus) que se manifesta na forma do som do trovão

Juraguaçu = boca grande

Çaguí = olhos inquietos

Tangá = pele tenra

Marco Antonio Mondini
Enviado por Marco Antonio Mondini em 20/12/2023
Reeditado em 20/12/2023
Código do texto: T7957753
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