O sonho do passado.
Hoje vou falar de um de meus sonhos do passado.
Após chegar em casa depois de um dia muito agitado e desgastante na empresa em que eu trabalhava, tomei uma ducha bem gelada.
O calor que havia feito durante o dia, parecia se estender pela noite e madrugada a fora.
Após ter tomado um bom banho, preparei meu prato com uma comida bem leve, até porque logo eu iria estar na cama, e no outro dia eu teria que despertar bem cedo para mais uma jornada de trabalho; por esse motivo eu não podia comer demais.
Mais tarde fui me deitar.
Não sei quanto tempo eu já estava dormindo, só sei que de repente comecei a sonhar. No sonho eu estava diante de uma jaula e nela havia um gorila, talvez um orangotango ou macaco. Não sei bem distinguir o que era, só sei que se tratava de um primata.
Mais isso agora não importa.
Do sonho me recordo ainda que parei diante do animal e fiquei em silêncio olhando para ele, e para minha surpresa durante um bom tempo ele também ficou me encarando, e em seguida bem bravo me fez uma pergunta.
-O que você está olhando.
Nossa, tomei o maior susto da minha vida.
Minha reação foi a de pensar em alta voz, e assim murmurei o seguinte, “Como pode um macaco falar”; foi isso que pensei em voz auta.
Fiquei mais surpreso ainda quando percebi que ele havia me escutado, e não satisfeito por eu não ter respondido a primeira pergunta, ele então me fez outra.
-Que mundo você vive?
-Por acaso nunca ouviu um macaco falar?
Fiquei chocado com essas perguntas, ainda mais vindo da boca de um animal.
Mas depois de um tempo me acostumei e logo fizemos uma linda amizade.
Ficamos ali batendo um bom papo, e em meio a uma conversa e outra eu lhe fiz muitas perguntas, uma delas foi feita em caráter de questionamento. Perguntei se ele não ficava triste e entediado por estar ali enjaulado e preso. Ele me disse que sim; que sentia falta da liberdade que tinha quando era jovem.
Falou também que cedo foi tirado do seio de sua familia, mais que para isso sua mãe ao tentar defendê-lo de seus raptores teve que perder a vida. Me disse também que por muitas noites chorou muito no canto de sua sela.
Confesso que me emocionei com a história que dele ouvi.
Ao ver uma lágrima rolar em meu rosto, o macaco me perguntou se eu também havia perdido minha mãe, lhe respondi que sim, mais que ao contrário da sua, a minha não me defendeu, ela fez o oposto, no meu caso foi deixado para trás três lindas crianças a deriva e a mercê do destino.
Minha mãe fez isso quando nos abandonou.
Nesse momento o macaco me falou algo que até então eu não tinha me atentado.
Me olhando ele me disse que os humanos andam em liberdade, mas que cada um de nós temos as nossas próprias prisões interior.
–Que prisão é essa? lhe perguntei.
Ele então me falou de todas as prisões que um ser humano carrega consigo.
–E quais são essas prisões das quais você fala...meu amigo macaco. me fale logo.
Vou falar meu amigo humano...tenha calma.
Vamos lá. Vocês não tem barras de ferros que os limitam...mas criam tantas dificuldades para suas próprias vidas...que lhes impedem de prosseguir, e de serem livres.
Fazem isso com suas ideologias e com seus preconceitos.
Com seus olhares críticos e com o hábito de apontar erros dos outros e não enxergar os seus.
Fazem isso com a falta de amor ao próximo, de querer tudo e nada dividir.
Fazem isso quando brigam pelo poder e não procuram usar a palavra para se defender.
Fazem isso também quando constroem armas com a justificativa de que elas são construídas para manter a ordem e a paz, quando na verdade essas armas só fazem matar.
Após ter falado tudo isso...o animal e eu ficamos em silêncio, até que pegamos no sono.
Pela manhã ao acordar, lembrei de tudo com tristeza.
Hoje recordando do sonho que tive, percebo que tirei dele a seguinte lição.
Nós os humanos vivemos realmente em uma prisão, porém são elas muitas das vezes criadas por nós mesmo.
No meu sonho o macaco teve essa visão, e com isso ele me fez ver que a nossa realidade não é diferente da realidade dos pássaros e dos leões, dos macacos e tigres que vivem nas jaulas e gaiolas. A diferença é que, os animais são enjaulados por um humano, enquanto que os humanos são eles mesmos que constroem e se aprisionam em suas prisões ideológicas.
Igor Rodrigues Santos