Triângulo Amoroso no Galinheiro
Esta história aconteceu no tempo que os bichos falavam.
Mas, com certeza, vocês não acreditam que os bichos já falaram alguma vez, não é mesmo? Nem eu, também. Ah, mas, com licença, o conto é meu e nesse conto os bichos falam!
O caso é que o galo Zé Carioca, galo de raça, campeão de rinha, levava a sua vidinha feliz, comandando, como um poderoso Sultão, o seu harém de galinhas no qual tinha uma predileção especial pela galinha Sissi, belo e gracioso espécime de galinha caipira.
Até que o dono da fazenda comprou um pavão a quem deu o nome de Klaus.
Vaidoso, como todo pavão que se preza, Klaus costumava desfilar garbosamente pela frente do galinheiro, arrancando suspiros da galinhada... Estufava o peito, abria o leque das suas belas e multicoloridas penas, onde predominavam vistosas e enormes penas azuladas, abanava o formidável rabo e, aqui e ali, dava umas certas e incertas nas galinhas.
Um dia, Zé Carioca viu Klaus e Sissi em suspeito colóquio. Cacarejou feio, avermelhou o pescoço, afiou o esporão e partiu para cima dos dois:
- Que é que está acontecendo por aqui, Sissi?
- Nada de mais, Zé, o Klaus estava me mostrando umas novas penas azuis do seu leque.
- Pois que vá mostrar lá no raio que o parta! Já para o galinheiro, Sissi, ou te aplico umas boas bicadas!
Sissi escafedeu-se rápida e Klaus, com um sorriso irônico, afastou-se prudentemente.
Passou-se um bom tempo e a vida corria normalmente dentro do galinheiro quando, um belo dia, todos foram acordados, não pelo clarão da madrugada, mas por um arranca-rabo dos diabos entre Zé Carioca e Sissi.
Um galo velho, o presidente do Conselho dos Anciãos do galinheiro, acudiu Sissi que estava a ponto de ser trucidada pelas bicadas e espetadas de Zé Carioca.
- Que é isso, Zé, controle-se! Quer matar a Sissi?
- Sim, vou matá-la! Ela me trai com o cretino do pavão!
Sissi berrou:
- Traio nada! É o Zé que tem um ciúme doentio! Viu o pavão me abanando com o seu leque e achou que estávamos na safadeza! Não teve nada de mais, esse galo é louco!
Com muita conversa, o galo velho convenceu Zé Carioca de que as suas suspeitas não tinham fundamento. Zé fez um cocoricó de desculpas para Sissi, que respondeu com outro cocoricó de honra ofendida, mas, no fim, tudo se acertou.
Horas mais tarde, Sissi andava ciscando pelo terreiro e, perto de um poço de fundo lamacento, atacou-lhe uma vontade premente de pôr ovos. Agachou-se e pôs. Foram apenas dois ovos. Sissi arregalou os olhos, olhou com medo para todos os lados, não viu ninguém, e, rápida, jogou os ovos no fundo do poço lamacento.
Eram dois ovos azuis...